Estamos vivendo uma ‘esquizofrenia’ na política econômica brasileira, afirma Lacerda

  • 11 de fevereiro de 2022
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As idas ao supermercado ficaram cada vez mais caras. A  inflação é recorde dos últimos anos, 10,58% no acumulado dos últimos doze meses até janeiro. Como consequência, as famílias estão consumindo menos. Ainda assim a taxa de juros no Brasil está entre as mais elevadas do mundo. Os impactos da desvalorização do real atingem inclusive os brasileiros que nunca pensaram em sair do país. Para avaliar essas e outras questões, o presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, concedeu entrevista ao programa Faixa Livre, da Rádio Bandeirantes RJ, nesta quinta-feira (10).

Para ele, a inflação atual, que é um dos monstros mais temidos pelas classes média e baixa do país, é resultado de uma pressão de oferta.  “Não é que as pessoas estejam comprando muito e que com isso os preços estão subindo; a elevação vem inicialmente das commodities, que são matérias-primas e grãos, no mercado internacional”, pontuou. A elevação dos preços em dólares no mercado internacional impulsiona um aumento no mercado doméstico – e há, também, a pressão cambial. “Há um repasse do preço em dólar, que subiu, e mais a cotação do real frente ao dólar. Há dois ou três anos a cotação do dólar era pouco superior a R$ 4,00. Recentemente chegou a R$ 5,60, hoje é de R$ 5,20. É um salto enorme”.

Sem considerar a real origem da inflação ou as consequências das medidas praticadas para as classes de renda mais baixas, o Banco Central adota o recurso do aumento da taxa de juros, contextualiza Lacerda. “Fazer isso no meio de uma recessão ou de uma estagnação como a que vivenciamos é um grande contrassenso. Vai agravar o desemprego, gerar queda da renda e aumentar o custo para o próprio Estado se financiar. E tudo isso será repassado aos preços. Estamos vivendo uma ‘esquizofrenia’ na política econômica brasileira”.

Além disso, “o sistema de metas de inflação brasileiro é outra distorção. Quem o Banco Central ouve para calibrar suas taxas de juros, dentre outros fatores? O mercado financeiro”, disse o presidente. “Isso se torna uma profecia autorrealizada, porque os economistas do mercado financeiro esperam uma alta da inflação e dos juros; o Banco Central, para atender tais expectativas, eleva os juros, o que acaba se consolidando, mesmo com todas as distorções que já foram mencionadas”.

O desemprego, o desalento e a subocupação, que atingem um número cada vez maior de brasileiros, também são fatores que interferem muito negativamente na conjuntura econômica do Brasil. “Temos hoje, num sentido latu, 29 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. Isso inclui os desempregados, que na estatística oficial aparecem como desocupados; mas temos também os desalentados, que desistiram de procurar emprego porque não encontram; e os subocupados, que trabalham muito menos do que precisam ou do que gostariam”, apontou o presidente do Cofecon. “Cada desempregado a mais é um consumidor a menos. Não há suporte para o crescimento do mercado e da economia. E com os juros altos e a falta de investimentos públicos, é um cenário perfeito para uma completa estagnação. Nos últimos sete anos a economia brasileira praticamente não cresceu”.

Lacerda também questionou a falta de um projeto de desenvolvimento para o Brasil e de uma política econômica voltada para a cidadania – o que torna o Brasil um país de especuladores e rentistas. “Há um ingresso forte de capital, mas que pode sair a qualquer momento, o que vira especulação. Quem comprar um título público ganha, em poucos meses, o que levaria uma década se comprasse um título público do governo norte-americano, alemão ou de outra economia”, criticou. “É uma transferência de renda, da ordem de quatrocentos bilhões de reais por ano, de toda a sociedade brasileira para uns poucos privilegiados, que são a camada mais rica, um sistema financeiro que é um grande intermediário deste processo”.

Por fim, o economista – que é organizador e coautor do livro O Mito da Austeridade – abordou a questão do ajuste fiscal. “A questão do superavit primário é vendida como uma solução que traria a confiança e o crescimento. Estamos esperando este crescimento, no mínimo, há cinco anos. Desde 2016, 2017, essa política tem sido adotada no brasil com resultados catastróficos”, argumentou o presidente do Cofecon. “A economia não cresce de forma sustentável, o desemprego aumenta, empresas quebram. E não podemos deixar de dizer que, nos últimos dois anos, isso foi agravado por uma péssima gestão no combate à pandemia de covid-19. Além de toda a catástrofe que estamos falando, também gerou 630 mil mortos, o que supera, em proporção, qualquer outro país”.

A entrevista pode ser ouvida na íntegra clicando AQUI.

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