Faltam vetores para crescer em 2022

  • 14 de janeiro de 2022
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A probabilidade de uma estagnação, ou até mesmo uma recessão, no Brasil em 2022 é maior do que a de crescimento. Há ausência de vetores que possam impulsionar a economia, a começar pela herança estatística. 2021 herdou um carregamento (carry trade) de 3,6% de 2020. Ou seja, 80% do desempenho positivo do ano, previsto em 4,5%, advém deste fator. Para este ano, o efeito estatístico do ano em curso será nulo.

Além disso, outros fatores macroeconômicos são adversos: a inflação, a política monetária, o mercado de trabalho e o investimento. A inflação derivada do choque de oferta das matérias-primas produz estragos na cadeia produtiva. A política monetária restritiva, com a elevação dos juros desestimula o consumo, que há tempos anda em falta, por estimular a poupança dos mais ricos e encarecer as dívidas das famílias e empresas.

O mercado consumidor também tem sido negativamente afetado pelo elevado desemprego em uma acepção mais ampla, considerando os desalentados e os subocupados. O fato é que mais de 30 milhões de pessoas estão fora do mercado de trabalho. A capacidade de compra das pessoas segue limitada, com a elevação do custo de vida e a insuficiência de reajuste de salários e honorários.

A política fiscal segue restringindo o investimento público, que está no menor nível médio histórico e seria crucial para promover uma medida anticíclica, pelo seu potencial efeito multiplicador e de demonstração. O investimento privado, dadas as circunstâncias apontadas, é circunscrito a algumas atividades ou ações de modernização estritamente necessárias. Nenhum empresário investe porque a mão de obra ficou mais barata, ou mediante eventual desoneração tributária, se há ociosidade na capacidade produtiva, falta perspectiva clara de elevação da demanda. Além disso, variáveis-chave para decisão, como a taxa de câmbio, por exemplo, não são previsíveis, inviabilizando o cálculo econômico.

As medidas de auxílio social, embora cruciais e necessárias, não serão suficientes para contrapor o cenário traçado. Completa o quadro o efeito das eleições gerais, que tradicionalmente geram muita especulação e volatilidade nos mercados. O aumento da incerteza exige mais clareza por parte dos postulantes aos cargos no Executivo e no Legislativo, especialmente quanto às propostas do que fazer na economia!

Por Anto­nio Cor­rêa de La­cer­da. Pre­si­den­te do Con­se­lho Fe­de­ral de Eco­no­mia (Co­fe­con) e pro­fes­sor-dou­tor do Pro­gra­ma de Pós-gra­du­a­ção em Eco­no­mia Po­lí­ti­ca da PUC-SP, é au­tor de “O Mi­to da Aus­te­ri­da­de” (Con­tra­cor­ren­te).

Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.

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