Faltam vetores para crescer em 2022
A probabilidade de uma estagnação, ou até mesmo uma recessão, no Brasil em 2022 é maior do que a de crescimento. Há ausência de vetores que possam impulsionar a economia, a começar pela herança estatística. 2021 herdou um carregamento (carry trade) de 3,6% de 2020. Ou seja, 80% do desempenho positivo do ano, previsto em 4,5%, advém deste fator. Para este ano, o efeito estatístico do ano em curso será nulo.
Além disso, outros fatores macroeconômicos são adversos: a inflação, a política monetária, o mercado de trabalho e o investimento. A inflação derivada do choque de oferta das matérias-primas produz estragos na cadeia produtiva. A política monetária restritiva, com a elevação dos juros desestimula o consumo, que há tempos anda em falta, por estimular a poupança dos mais ricos e encarecer as dívidas das famílias e empresas.
O mercado consumidor também tem sido negativamente afetado pelo elevado desemprego em uma acepção mais ampla, considerando os desalentados e os subocupados. O fato é que mais de 30 milhões de pessoas estão fora do mercado de trabalho. A capacidade de compra das pessoas segue limitada, com a elevação do custo de vida e a insuficiência de reajuste de salários e honorários.
A política fiscal segue restringindo o investimento público, que está no menor nível médio histórico e seria crucial para promover uma medida anticíclica, pelo seu potencial efeito multiplicador e de demonstração. O investimento privado, dadas as circunstâncias apontadas, é circunscrito a algumas atividades ou ações de modernização estritamente necessárias. Nenhum empresário investe porque a mão de obra ficou mais barata, ou mediante eventual desoneração tributária, se há ociosidade na capacidade produtiva, falta perspectiva clara de elevação da demanda. Além disso, variáveis-chave para decisão, como a taxa de câmbio, por exemplo, não são previsíveis, inviabilizando o cálculo econômico.
As medidas de auxílio social, embora cruciais e necessárias, não serão suficientes para contrapor o cenário traçado. Completa o quadro o efeito das eleições gerais, que tradicionalmente geram muita especulação e volatilidade nos mercados. O aumento da incerteza exige mais clareza por parte dos postulantes aos cargos no Executivo e no Legislativo, especialmente quanto às propostas do que fazer na economia!
Por Antonio Corrêa de Lacerda. Presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e professor-doutor do Programa de Pós-graduação em Economia Política da PUC-SP, é autor de “O Mito da Austeridade” (Contracorrente).
Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.