Fiesp quer proteção ambiental e investimento em infraestrutura

  • 2 de setembro de 2022
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Presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, fala em matéria no portal Broadcast, da Agência Estado, sobre o papel da Fiesp no novo governo

O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, falou ao portal Broadcast, da Agência Estado, sobre o papel da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no próximo governo. Lacerda, que é integrante do Conselho Superior de Economia da entidade, acredita que com Josué Gomes da Silva à frente da instituição, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vença a eleição, “a Fiesp pode ser um dos principais interlocutores do governo para a reindustrialização do Brasil”, considerando que “Josué e Lula têm visões econômicas desenvolvimentistas para o País”, argumenta Lacerda.

Para o presidente do Cofecon, a indústria tem importância fundamental no desenvolvimento, não só pelo aumento da complexidade produtiva (que gera empregos com melhor remuneração), mas também pela segurança no fornecimento de insumos e produtos e até mesmo pela inserção internacional do Brasil.

Este seria um contraponto ao papel histórico da Confederação Nacional da Indústria. Na avaliação de Lacerda, a CNI assumiu uma postura “liberal, de busca do Estado mínimo”, sem considerar que é necessária a atuação dos investimentos públicos para propiciar o efeito multiplicador na formação bruta de capital fixo do País. “Por outro lado, se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito, a Fiesp precisará se reposicionar sobre como atuar com ele no poder por mais 4 anos”, concluiu.

Os países desenvolvidos, que têm grande participação do setor de serviços na formação do produto interno bruto, acreditam que o fortalecimento da indústria é essencial para o crescimento de suas economias. Até porque elas estão na vanguarda da inovação tecnológica e da geração de valor agregado.

Num momento em que as eleições presidenciais se aproximam, economistas da Fiesp ouvidos pela Agência Estado defendem uma indústria de grande escala, diálogo com o mercado internacional, avanço da tecnologia, investimento em infraestrutura e melhoria do cenário ambiental.

Confira a matéria na íntegra:

Por Ricardo Leopoldo, da Agência Estado 

Os países desenvolvidos, com destaque para EUA, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Coreia do Sul, que têm grande participação dos serviços na formação do produto interno bruto, acreditam que o fortalecimento industrial é essencial para o crescimento de suas economias, inclusive porque elas estão na vanguarda da inovação tecnológica e geração de valor agregado.

“O fundamental para a indústria é ter escala. E ela precisa ser obtida não apenas para atender ao mercado nacional, que é grande, mas também para exportar e incorporar o que há de mais avançado em tecnologia no mundo”, defende o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha.

Há um conceito muito ultrapassado de que o setor fabril precisa do fechamento da economia a fim de se proteger ao máximo da competição de concorrentes estrangeiros. “Ao contrário, a nossa indústria precisa também vender seus produtos para fora do País. A inserção internacional viabiliza, além da conquista de novos mercados e ampliação de fontes de receitas, o acesso ao que há de mais atualizado em sistemas de produção, o que é muito relevante para elevar a produtividade.”

Devido ao abalo nas cadeias internacionais de valor gerado pela covid-19 e a invasão da Rússia na Ucrânia, os EUA e a Europa passaram a defender juntos uma nova ordem na globalização comercial. Trata-se do ‘friend shoring’, que é a importação de componentes, mercadorias e commodities de países que defendem os mesmos princípios democráticos e apresentam estabilidade política e institucional.

“O diálogo com os americanos e europeus mudou muito nos últimos 45 dias, pois vêm nos visitar aqui na Fiesp e querem firmar acordos para viabilizar a segurança alimentar e energética dos seus respectivos países”, apontou o vice-presidente da instituição, Rafael Cervone. “Eles conhecem o Brasil de longa data, sabem que temos dificuldades, mas somos a melhor opção que eles possuem no momento, inclusive porque muitas das suas empresas querem parar de depender tanto da Ásia, sobretudo da China.”

A questão ambiental no Brasil, principalmente com o avanço do desmatamento florestal na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo ex-ministro para esta área foi alvo de investigação pela Polícia Federal (PF) por suspeita de atuar a favor de um esquema de tráfico de madeira ilegal da Amazônia, é um tema que emperra as negociações comerciais internacionais envolvendo o País, como ocorreu com o acordo Mercosul-União Europeia. É fato que os investidores internacionais estão acompanhando com grande expectativa as eleições para presidente, pois acreditam que a vitória da oposição poderá mudar 180 graus a política federal para a proteção ecológica.

“O tema do respeito ao meio ambiente no Brasil implica riscos consideráveis para as nossas exportações, especialmente para os EUA e Europa, o que ocorre inclusive para viabilizar certo protecionismo nos mercados europeus”, comentou a diretora do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Tatiana Prazeres.

O fato de a Fiesp defender a inserção internacional das indústrias, inclusive para gerar maior escala e aumentar a criação de empregos altamente qualificados e melhor remunerados, não elimina a busca pelo cumprimento de regras internacionais dos parceiros comerciais do Brasil, pois há ainda um grande número de práticas protecionistas em vários países, como o dumping, fraudes tarifárias e concessões de imensos subsídios às indústrias locais.

Tatiana defende que os exportadores brasileiros tenham acesso a seguros e financiamentos com taxas de juros compatíveis com o que ocorre com seus concorrentes internacionais, elementos que foram praticamente abandonados nos últimos três anos pela administração Bolsonaro

Inovação/Estado 

Em todo o mundo, os avanços em Ciência e Tecnologia ocorrem como prioridades de políticas de Estado. O governo do presidente americano, Joe Biden, acabou de sancionar uma lei que concede US$ 52 bilhões em subsídios para grandes indústrias de semicondutores desenvolverem tais produtos sofisticados nos Estados Unidos. Ele também conseguiu a aprovação pelo Congresso de uma legislação que deverá dedicar US$ 369 bilhões em investimentos para medidas que vão ajudar na transição para a emissão zero de carbono, como pagar US$ 7.500 para quem comprar um carro elétrico novo e US$ 4.000 para quem adquirir este tipo de automóvel usado.

“No Brasil, esperamos que o próximo governo deverá adotar além de uma reforma tributária e reforçar a segurança jurídica para melhorar o ambiente de negócios, que viabilize as condições necessárias para o avanço da Ciência, Tecnologia e Inovação”, afirmou o presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp, Pedro Wongtschowski.

Por outro lado, há algumas iniciativas que poderiam ser feitas na articulação entre os setores público e privado que avançariam bastante a capacidade produtiva de empresas, sobretudo as micro e pequenas. Ele defende a difusão tecnológica, que é levar as pesquisas acadêmicas que estão isoladas nos prédios das universidades, para ganharem vida na rotina da atividade das indústrias. “Pequenas novidades em procedimentos de produção que são descobertas nas universidades, muitas vezes elevam a produtividade de 30% a 40% de empresas pequenas”, destacou Wongtschowski.

Infraestrutura 

O aumento dos investimentos em infraestrutura é crítico para o crescimento do País. Nos últimos três anos, os recursos dedicados ao setor representaram uma média de 1,7% do produto interno bruto, inferior aos 2,4% do PIB por ano que são necessários apenas para compensar a depreciação destes ativos em uma década. “Para que sejam fechados os gargalos da infraestrutura nacional precisamos que tais montantes atinjam o equivalente a 4,3% do PIB em média por dez anos”, estima Igor Rocha.

Os problemas mais fortes estão em transportes/logística, como rodovias, portos, ferrovias e aeroportos, e também no segmento de saneamento básico, que além de ser importante para a saúde pública é vital para o meio ambiente. Na avaliação de Rocha, são necessários bons projetos em infraestrutura, garantias do governo para investidores, inclusive estrangeiros, quando forem aplicar recursos em obras nos Estados e o próprio investimento público nestas obras de longo prazo. “Pouca gente sabe, mas 70% da infraestrutura no Brasil foram gerados pelo setor privado. A aplicação de recursos pelo Tesouro nesta área ajuda a alavancar a atuação das empresas particulares neste setor por todo o País.”

Protagonismo 

Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, tem uma relação pessoal próxima com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pois seu pai foi o vice-presidente da República de 2003 a 2010 e o principal companheiro de Lula no governo.

“Mais que isso, Josué e Lula têm visões econômicas desenvolvimentistas para o País. Não há dúvida de que se o Lula vencer as eleições, a Fiesp poderá se tornar um dos principais interlocutores do governo para a reindustrialização do Brasil”, apontou o professor Antonio Corrêa de Lacerda (PUC-SP), membro do Conselho Superior de Economia da entidade.

Para Lacerda, esse seria um contraponto interessante ao papel histórico da Confederação Nacional da Indústria, pois na sua avaliação assumiu uma postura “liberal, de busca do Estado mínimo”, sem considerar que é necessária a atuação dos investimentos públicos para propiciar o efeito multiplicador na Formação Bruta de Capital Fixo do País. “Por outro lado, se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito, a Fiesp precisará se reposicionar sobre como atuar com ele no poder por mais 4 anos.

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