IBGE responde questionamento enviado pelo Cofecon e Corecon-RJ
O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Roberto Luis Olinto Ramos, enviou no dia 13 de junho uma resposta aos questionamentos realizados pelo Cofecon e pelo Corecon-RJ quanto à mudança de metodologia na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). No dia 30 de março, a PMC apontava uma queda de 0,7 na atividade do Comércio em janeiro; já a PMS trazia dois resultados negativos consecutivos: -1,0% em janeiro e -2,2% em fereveiro. No dia 12 de abril, entretanto, foi divulgada uma nota técnica informando a utilização de uma nova metodologia e apresentando novos resultados para os períodos em questão. Desta forma, o resultado da PMC de janeiro passou a ser uma alta de 5,5%, enquanto a PMS de janeiro e fevereiro registrou alta de 1,4% e 0,7%, respectivamente. Diante disso, o Cofecon e o Corecon-RJ enviaram um ofício ao IBGE solicitando explicações.
Leia abaixo a resposta enviada pelo presidente do IBGE:
Inicialmente, reitero que não houve erro nas pesquisas PMC e PMS. Conforme já divulgado na mídia, a revisão periódica das ponderações, nas amostras dos vários segmentos do comércio e serviços, decorreu de observância da própria metodologia publicada e empregada na pesquisa, disponível no portal do IBGE na internet. Neste caso, não é uma boa prática proceder à correção das séries estatísticas para trás, alterando-se as ponderações vigentes no passado, que refletiam a realidade daquele momento no tempo. O encadeamento das séries se dá como se houvesse, periodicamente, um pequeno “nó”, que emenda o período da ponderação antiga com o da ponderação nova. Essa articulação pode suscitar – às vezes – um discreto acréscimo que corrige o atraso nas variações antes calculadas pela ponderação, agora revista.
Importante, ainda, informar que a atualização do ajuste sazonal não terá efeito sobre o PIB ou sobre outros agregados das Contas Nacionais trimestrais. As Contas Nacionais são calculadas a partir dos dados básicos, sem ajuste sazonal. Somente após todo o processo de análise das diversas fontes de dados e do balanceamento entre oferta e demanda, adotado no cálculo do sistema de Contas Nacionais, as séries passam por um ajuste sazonal – realizado de forma independente do ajuste das pesquisas básicas e atualizado a cada trimestre.
Finalmente, cabe registrar que é no contexto das diretrizes preconizadas pelo Código de Boas Práticas das Estatísticas do IBGE que este Instituto adota os procedimentos de revisão de dados das operações estatísticas. Entre os princípios desse código, destaca-se o Princípio 17 – Acessibilidade e transparência, indicador 17.1: “deve-se garantir a todos os usuários o acesso livre e igualitário às estatísticas oficiais por meio de procedimentos claramente estabelecidos e conhecidos.” (IBGE, 2013, p.30).
Atenciosamente,
Roberto Luis Olinto Ramos
Presidente do IBGE
Leia abaixo o ofício enviado pelo Cofecon e Corecon-RJ em 26 de abril:
Senhor Presidente,
1. Em 30 de março de 2017 o Conselho Federal de Economia (COFECON) e o Conselho Regional de Economia da 1ª Região (CORECON/RJ) tomaram conhecimento dos resultados referentes à Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada por este renomado instituto, apontando uma queda de 0,7% no volume de vendas no comércio varejista nacional em janeiro na comparação com o mês imediatamente anterior.
2. Contudo, em 12 de abril de 2017 o IBGE informou, por meio de uma nota técnica, que havia selecionado uma nova amostra para a PMC, vigente já a partir de 2017, e que utilizara uma nova metodologia na construção do ano-base da pesquisa. Evidentemente que se trataria de algo corriqueiro nas inúmeras atividades do IBGE, não fosse o fato de que tais mudanças provocaram uma abrupta alteração no resultado apurado pela PMC, de variação negativa em janeiro de -0,7% para positiva de +5,5%.
3. Situação similar ocorreu com a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), cujos resultados foram alterados em janeiro, de variação negativa de -1,0% para positiva de +1,4%, e, em fevereiro, de variação negativa de -2,2% para positiva de +0,7%.
4. Diante das acentuadas variações, diversos analistas econômicos, inclusive de bancos e consultorias, manifestaram estranheza não só pela repentina mudança metodológica, mas por apresentar resultados tão díspares dos anteriormente divulgados, afinal, ainda que a queda da inflação possa apontar para um aumento do poder aquisitivo do brasileiro, a persistente alta nas taxas de desocupação, medidas por esta instituição, não parecem apontar para uma retomada do consumo nestas proporções. Deve-se ressaltar ainda que, historicamente, outras mudanças metodológicas têm provocado alterações apenas marginais nos resultados.
5. Chama mais atenção o fato de não ter havido uma divulgação prévia do aperfeiçoamento metodológico adotado pelo Instituto, assim como discussões com a comunidade acadêmica e outras organizações da sociedade civil, deixando espaço para dúvidas quanto à urgência de tais mudanças, justo num momento no qual o comércio acumulava baixas consecutivas, reforçando a trajetória de queda da média móvel trimestral desde 2014.
6. Preocupa ainda a informação veiculada pelo jornal Valor Econômico, de 20/04/2017, em que o diretor de Pesquisas do Instituto afirmou ser possível haver novos ajustes nas próximas divulgações, tanto na PMC quanto na PMS, pois a nova metodologia ainda precisaria de mais tempo para ser consolidada, sugerindo que estudos de impacto e projetos piloto nunca haviam sido realizados.
7. Mas o que causou maior estranheza foi o fato de o novo resultado positivo revelado pelo IBGE ter sido imediatamente (em 17/04) apropriado pelo Banco Central para elevar sua estimativa de desempenho da economia brasileira, mediante a elevação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de janeiro de 2017 de -0,26% para +0,62% e estimando-o em 1,31% para fevereiro do mesmo ano, o que serviu de base para revisão para cima dos prognósticos de desempenho do PIB no primeiro trimestre de 2017 por parte de diversas instituições.
8. Este prestigioso instituto tem um imenso histórico de serviços prestados ao Brasil, e nem sequer as indevidas intervenções governamentais no período da ditadura militar lograram macular seu elevado conceito.
9. Preocupados com as consequências de mudanças tão abruptas, não só no auxílio às avaliações de conjuntura econômica, mas também num possível arranhão na imagem desta instituição – que em 2015 recebeu o Prêmio de Destaque Econômico conferido pelo Conselho Federal de Economia na categoria “Instituição Técnica” – e buscando preservar a instituição de possíveis interpretações de manipulação de dados, o COFECON e o CORECON/RJ solicitam os devidos esclarecimentos públicos acerca da previsão da mudança metodológica para a data em que foi efetuada e das justificativas técnicas para as mudanças tecnológicas na PMC e na PMS.
Atenciosamente,
ECON. JÚLIO MIRAGAYA
Presidente do COFECON
ECON. JOSÉ ANTÔNIO LUTTERBACH SOARES
Presidente do CORECON/RJ