Artigo – Jo Cox
Quanto vale uma vida? As de centenas de milhares de sírios, iraquianos, líbios, palestinos e afegãos, mortos em guerras civis fomentadas pelo imperialismo norte-americano, não valem um “tostão furado”, assim como a de pobres e negros moradores das periferias de nossas metrópoles. A de sindicalistas e lideranças de trabalhadores rurais no interior do Pará ou do Maranhão vale R$ 100,00, preço pago por latifundiários a pistoleiros menos experientes.
Já a de um executivo de grande corporação capturado por sequestradores pode valer alguns milhões de dólares, equivalente ao valor de Steve Austin, o “Homem de seis milhões de dólares” do antigo seriado de TV. Mas nada se compara ao valor da vida (ou da morte) de Jo Cox, jovem deputada trabalhista britânica e defensora da permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) e dos milhares de refugiados sírios, líbios e afegãos que migraram para seu país.
O mercado financeiro quer a permanência do Reino Unido na UE e a simples ameaça de aprovação de sua saída no plebiscito marcado para hoje resultou em perdas de US$ 2 trilhões nos mercados financeiros globais na última semana. Ocorre que o assassinato de Jo Cox por um xenófobo de extrema direita fez crescer a chance do Reino Unido permanecer na UE e gerou forte elevação dos títulos e papéis, provocando euforia no mercado financeiro.
É isso mesmo: a morte de Jo Cox foi comemorada pelos especuladores do cassino financeiro global, pois pode representar ganhos de até 2 trilhões de dólares para essa turma. Esse é o valor de sua morte. O mesmo mercado financeiro exige aqui o corte de gastos em saúde, educação, habitação e previdência social para gerar robustos superávits primários a fim de garantir o pleno pagamento dos juros da dívida pública, pouco importando como tais cortes impactarão a vida de milhões de brasileiros. Quantas Jo Cox haverá entre nós?
Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia