Lacerda discute reindustrialização, juros, inflação e câmbio

  • 10 de agosto de 2023
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Conselheiro federal foi entrevistado no programa De Olho no Câmbio e abordou os desafios da economia brasileira para voltar a crescer de forma inclusiva 

O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda participou nesta terça-feira do programa De Olho no Câmbio, conteúdo jornalístico produzido pela plataforma digital Remessa Online. Ele conversou com os jornalistas Sidney Rezende e Rui Gonçalves e com o economista André Galhardo sobre a ata do Copom, a necessidade de reindustrializar o Brasil, as mudanças ocorridas na inflação e seu impacto sobre o câmbio. A entrevista pode ser assistida clicando AQUI

Acerca da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada após a redução da taxa de juros em 0,5 ponto percentual (de 13,75% para 13,25%), Lacerda observou que ela ainda está muito acima da inflação. “Temos a taxa de juros reais mais alta do mundo e um espaço enorme para reduzi-la, inclusive a um ritmo mais acelerado do que vem sendo veiculado. Eu teria dito para reduzir 0,75 ponto nesta reunião”, afirmou o conselheiro. A ata também mencionou uma “estabilidade” no setor industrial. “É uma estagnação que já dura dez anos. O crescimento do consumo foi abastecido pelas importações. E este fenômeno não é internacional. É uma substituição da produção local por importações de forma anticompetitiva. Estamos abrindo mão de impostos, empregos, tecnologia e valor agregado”. 

Após a queda dos juros, o dólar passou de um nível próximo a R$ 4,70 para R$ 4,90. “Atribuo essa valorização a fatores conjunturais. Em breve teremos um equilíbrio e será um desafio evitar uma valorização excessiva do real, porque seria um problema para a reindustrialização”, expressou o economista. Ao abordar os desafios contemporâneos sobre as cadeias produtivas, Lacerda vê uma oportunidade para o Brasil. “Temos um DNA industrial, pela grande transição da agricultura para a indústria que foi feita no Século 20. Mas ela só será aproveitada se adotarmos políticas macroeconômicas e de competitividade (industrial, comercial e de inovação) que induzam este processo de reindustrialização, levando em conta a transição energética, a descarbonização e a economia digital, sem esquecer o lado da inclusão social”. 

Ao falar sobre a importância da indústria, Lacerda colocou o fato de que não há precedente de países que tenham se desenvolvido sem uma indústria pujante. “O agro é importante, sustenta a balança comercial, é uma vantagem competitiva. Mas a indústria é importante porque gera valor agregado. O Brasil pode ser uma potência no complexo agropecuário, mineral e petrolífero e ser também uma potência de descarbonização e industrialização voltada para a transição energética e a energia limpa”, argumentou. “Temos que integrar os setores tradicionais com os novos setores, como economia da saúde, educação e infraestrutura. A visão montada no governo Lula 3 envolve estratégia e financiamento e temos que contar com todas as possibilidades para retomar o investimento público”. 

Uma pesquisa publicada no jornal Valor Econômico trouxe a possibilidade de, com a queda dos juros, haver uma transformação dos ganhos de renda em consumo, com um potencial de 5 trilhões de reais. Mas o consumo não tem crescido de forma expressiva nos últimos anos. “Este é o ponto fundamental quando se fala em inclusão social. Temos 20 milhões de brasileiros estão fora do mercado de trabalho, sendo 8 milhões de desempregados, 4 milhões de desalentados e 8 milhões de subocupados. Isso representa um quinto da População Economicamente Ativa”, observou Lacerda. “Temos muita potencialidade, mas convivemos com 33 milhões de famintos. Precisamos reincorporar as pessoas ao mercado de trabalho e consumo e à própria cidadania. A recuperação de 70 milhões de brasileiros que hoje estão inadimplentes é relevante para reincorporá-los ao consumo. Há também um campo de trabalho importante na redução das taxas de juros ao tomador final”. 

Além dessas medidas, a segunda fase da reforma tributária buscará tornar a tributação mais progressiva. “Hoje ela é concentrada em tributos indiretos e onera mais quem ganha menos. A política de valorização do salário mínimo também é importante. E, por último, a retomada do crescimento poderá incorporar estas pessoas”, pontuou o economista. Por fim, Lacerda projetou um crescimento de 2% a 2,5% para este ano, com a ressalva de que o número “depende de uma série de fatores”, mas que pode ser melhor nos próximos anos. 

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