Lacerda: “O mercado somos todos nós”
Economista esteve na bancada do Jornal da Cultura no dia 03/06 e comentou notícias sobre a aprovação de pautas econômicas, as projeções do Focus, impactos da catástrofe climática e o vale-refeição
O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda participou na última segunda-feira (03) do Jornal da Cultura. Ele esteve na bancada comentando as notícias exibidas no noticiário televisivo e falou sobre a aprovação de pautas econômicas no Congresso Nacional, as projeções do boletim Focus, os impactos da catástrofe climática sobre a indústria automobilística e o vale-alimentação dos trabalhadores.
Sobre os riscos para a pauta econômica no Congresso Nacional, Lacerda lembrou que toda decisão econômica afeta diferentes segmentos da sociedade. “Há interesses que talvez sejam mais facilmente conciliados, considerando a realidade do país”, analisou o economista. “Mas muitas vezes transparece para a opinião pública, de forma equivocada, que se trata de um embate entre interesses do governo e do Legislativo de uma forma mais republicana, e infelizmente não é o que ocorre. Às vezes prevalecem interesses setoriais, que estão legitimamente representados no Congresso, mas que muitas vezes defendem interesses privados, de grupos, e não interesses coletivos”.
O boletim Focus, do Banco Central, projetou pela quarta segunda semana seguinte uma inflação mais alta que a da semana anterior, chegando agora a 3,88. A taxa de juros ao fim do ano, de acordo com a edição mais recente, seria de 10,25%, voltando a cair somente no próximo ano. O ex-presidente do Cofecon apontou para o fato de que as projeções publicadas nos últimos anos têm sido mais pessimistas do que a realidade.
“No início do ano passado o Focus projetava crescimento econômico inferior a 1%. Cresceu 2,9%”, observou Lacerda. “É inegável que houve uma deterioração na margem, com mais inflação, os juros caindo menos que o desejado, o crescimento mais moderado, mas o importante é que, apesar das circunstâncias, a inflação permanece rigorosamente dentro da meta”.
O economista também defendeu uma democratização na captura das expectativas. “No Brasil se convencionou que mercado é o financeiro. E mercado somos todos nós: os trabalhadores, os empresários, os empreendedores, os consumidores”, argumentou. “É preciso realmente ampliar a captura dessas expectativas, especialmente levando em conta aquilo que prevê o setor produtivo. E evidentemente as decisões não são neutras: muita gente ganha quando você mantém um juro mais conservador. Se trabalharmos com uma inflação abaixo de 4% e uma taxa de juros acima de 10% é, grosso modo, um juro real de 6% ao ano – de longe, o maior do mundo”.
A indústria automobilística tem sentido os efeitos da catástrofe climática ocorrida no Rio Grande do Sul. O estado é um centro importante de produção de autopeças. “Fica claro que o fenômeno não é só regional, porque as cadeias de produção são afetadas, e de certa forma isso também impacta os preços”, pontuou Lacerda. “O que o governo tem feito é liberar a importação, no caso do arroz, que houve até uma revolta por parte de alguns produtores, mas é uma medida necessária para regular o mercado. No mesmo sentido, com as autopeças, também há o recurso da importação”.
O economista aponta ainda que três grandes fenômenos (a pandemia, as guerras e os eventos climáticos) afetaram muito as cadeias produtivas internacionais. “No caso do Brasil, que é um país continental, isso também se reflete domesticamente. Certamente afetará a estratégia das empresas: não se pode concentrar demais a cadeia de fornecedores”, comentou Lacerda. “Um último comentário é que a reconstrução terá um reflexo positivo no PIB. Por exemplo, 200 mil veículos foram destruídos ou inviabilizados no rio Grande do Sul. De alguma forma a reposição disso representa crescimento da economia”.
Outra notícia veiculada no Jornal da Cultura diz respeito ao vale-refeição dos trabalhadores. Uma pesquisa realizada por uma empresa do ramo apontou que o benefício tem durado, em média, 11 dias. O ex-presidente do Cofecon argumentou que o poder de compra do brasileiro vem crescendo desde 2023. “Mas não há dúvida que há uma pressão de custo de vida envolvendo alimentos, o que afeta diretamente o tema da matéria veiculada”, afirmou.
“E estes penduricalhos foram criados porque o salário do brasileiro não tem poder de compra. Vale-alimentação e vale-refeição são formas de complementar o salário. E não é tão indiferente assim para o trabalhador porque, se por um lado ele não paga imposto de renda sobre esta parcela que recebe, por outro ele não recebe décimo-terceiro, férias e Fundo de Garantia”, continuou o economista. “E, como ficou claro, 480 reais não cobrem o custo de uma refeição para uma pessoa ao longo do mês”.