Artigo – Mexíndia

  • 21 de julho de 2016
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Os analistas do mercado têm uma verdadeira obsessão por países modelos, em especial aqueles que aplicam fielmente o receituário neoliberal. Já foram modelos a Argentina de Menem, o Peru de Fujimori, e o Brasil de FHC. Atualmente têm citado com frequência os países da Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile) e a Índia de Narendra Modi.

 Ao observarmos a situação dos direitos sociais em dois desses países, México e Índia, podemos considerar que, no Brasil, vivemos no paraíso. Os gastos sociais em relação ao PIB, por exemplo, eram de 21,3% no Brasil em 2013, bem abaixo do verificado na Alemanha (27,1%) e na Suécia (29,8%), mas muito acima do observado no México (7,7%) e na Índia (2,6%).

Segundo dados da OIT, a cobertura pela previdência social alcançava, em 2013, 86,3% dos brasileiros. Na Alemanha e na Suécia chegava a 100%, mas no México era de apenas 25,2% e, na Índia, 24,1%. Quase 1 bilhão de indianos sem cobertura previdenciária.

Enquanto o Brasil gastava 5,8% do PIB com saúde pública, o México aplicava 2,8% e a Índia, 1,1%. Em relação aos gastos com idosos e assistência social, no Brasil somavam 12,3% do PIB, ao passo que no México era de 3,8% e na Índia 0,8%. Pensão por morte ou invalidez no Brasil perfazia 4,2% do PIB, enquanto no México pífio 0,4%.

Não surpreende que nesses países a taxa de pobreza supere a do Brasil e, ao contrário daqui, onde caiu fortemente nos últimos anos, vem se mantendo elevada e aumentando, no caso da Índia. Então por que razão seriam esses países os queridinhos do mercado? Desde quando os capitalistas se preocupam com a condição de vida do povo? Daí advém o apoio deles à PEC que limita os gastos sociais.

O economista Bacha, que cunhou em 1974 o termo Belíndia (Bélgica e Índia), refletindo um Brasil rico e outro pobre, poderia criar hoje o termo Mexíndia (México e Índia), expressão do descaso social nesses países.

Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia.

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