Mulheres destacam importância da diversidade: “Não podemos tratar o Brasil pelas médias”

  • 9 de novembro de 2023
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Afirmação da presidente do IPEA, Luciana Servo, aconteceu durante o Fórum da Mulher economista, realizado nesta quarta-feira em São Luís. Kellen Brito e Potyra Terena também participaram do debate.

Na manhã desta quarta-feira (08) foi realizado em São Luís, Maranhão, o Fórum da Mulher Economista e Diversidade, espaço de debates que vem ganhando cada vez mais espaço nos eventos do Sistema Cofecon/Corecons. Os debates contaram com a participação das economistas Luciana Servo, presidente do IPEA, e Kellen Brito, pesquisadora da UFPI, além da educadora Potyra Terena.

Luciana foi a primeira a falar e, ao apresentar a agenda estratégica do IPEA para 2024 a 2026, enfatizou a importância das questões de gênero para o atual governo como um tema transversal. “Todos os ministérios terão que trabalhar com elas – e, no Brasil, as questões de gênero e de raça estão imbricadas”. No dia 1º de dezembro o Brasil assumirá, durante um ano, a presidência do G20 e conduzirá a discussão das prioridades internacionais para este grupo de países. “Todos os ministérios estão coordenando grupos de trabalho para discutir com os representantes dos vários países. A agenda de gênero foi algo muito importante quando a Argentina presidiu o G20”.

A economista também falou sobre a participação das mulheres no setor público. “Não é que elas não consigam acessar. Elas são invisíveis. Para chegar em cargos de gestão, precisam superar um teto de vidro, e para as mulheres negras, este teto é de concreto”, afirmou, em referência às dificuldades invisíveis que as mulheres enfrentam para crescer na carreira e chegar a posições de liderança. Ela também informou que o Instituto abrirá um concurso público e convidou as economistas a se inscreverem. “O IPEA é uma instituição predominantemente masculina e branca. Cerca de 78% são homens. Precisamos ter mais representatividade dentro do setor público. Nós, economistas, gostamos de usar as médias, mas não podemos tratar o Brasil por elas”.

Kellen Brito iniciou sua fala discutindo o conceito do “homo economicus” – abstração usada para personificar a teoria de que as escolhas econômicas são feitas de forma racional. “Ele é homem, é branco, tem no máximo 45 ou 50 anos, pode transitar por vários espaços da sociedade e é livre”, expressou a economista, criticando o fato de que a teoria econômica é construída em torno desse personagem. “Quando falamos de mulheres, cores, etnias, genero e personalidade, estamos trazendo à tona não um privilégio, mas a existência, que muitas vezes a economia, baseada nas médias, dilui”.

Kellen, que é uma referência em economia feminista, fez uma diferenciação entre a economia de gênero e a economia feminista. “A economia de gênero usa o mesmo referencial e metodologia tradicional para fazer uma análise de dados sobre as mulheres. Só vai existir uma mudança de paradigmas quando se usa a economia feminista”, explicou. Ao abordar dados do Brasil, ela explicou que as mulheres têm mais escolaridade e expectativa de vida que os homens, mas menos renda. “O salário da mulher cresce até que ela se torna mãe. Quando ela tem filhos, cai 21% por filho e só começa a voltar depois do oitavo ano”.

Potyra Terena agradeceu o convite para o debate dizendo que “é a primeira vez que a economia se lembra de nós. E nós, povos indígenas, fazemos economia solidária no nosso território”. Ela observa que as mulheres indígenas foram empoderadas em seu território. “Quando temos que esperar nosso companheiro para que ele participe de uma discussão, ele só vai participar porque nós existimos enquanto mulheres. E quando falamos, alguns acham que estamos tomando o lugar deles, mas estamos em nosso lugar”.

Potyra também expressou que “nós, indígenas, estamos no sistema capitalista e precisamos de algumas coisas, mas pensamos que podemos produzir coisas bonitas com a nossa personalidade”. Ela também trouxe ao debate a invisibilização dos indígenas em diversas pesquisas econômicas. “Pesquisa de desemprego, por exemplo: você já viu indígena desempregado? Eu estou no mercado de trabalho, mas nunca deixei de fazer o que sempre produzi, que é artesanato. As pesquisas de vocês dizem que as mulheres estão tendo filhos mais tarde, mas ela não se aplica ao nosso território”, disse. E comentou que seu companheiro é bisavô. “E isso não nos impede de sermos felizes. Nada me impediu de seguir a minha trajetória, aquilo que eu havia pensado para mim”.

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