Mulheres economistas abordam desafios em suas áreas de atuação
Como parte das comemorações do Mês do Economista, comemorado em agosto, a Comissão Mulher Economista do Cofecon realizou um evento virtual para falar sobre a força e a atuação da mulher economista em diversos setores. A live contou com a participação das economistas Luciana Acioly, Vilma Guimarães, Petula Ponciano, Daniela Freddo e Mônica Beraldo, além da estudante de economia Julia Cardoso.
Luciana Acioly, pesquisadora do Ipea, trouxe dados da Unesco sobre a participação das mulheres na ciência (30% dos cientistas são mulheres; no Brasil, 40%). Outro estudo apontou que 57% dos estudantes universitários são mulheres, mas no campo da economia este número cai para 38%. Outro dado trazido por Luciana foi que as áreas da economia com menor participação feminina são Macroeconomia, Finanças e Teoria Econômica. “Mas se tivermos as políticas certas e o engajamento, poderemos ter um espaço muito grande para ser ocupado pelas economistas”, comentou Acioly. “Neste sentido, a iniciativa do Cofecon de trazer mulheres economistas para falar de suas áreas dá uma grande contribuição para que as estudantes se vejam nas narrativas que nós colocamos aqui, que se vejam atuando em áreas semelhantes”.
Ao contar sua própria experiência, Luciana mencionou uma ocasião em que chefiou uma delegação acadêmica na Índia, em 2012. “Na ocasião, comentaram que era a primeira vez que viam uma mulher chefiando uma delegação acadêmica no BRICS”, mencionou a economista. “Isso chamou a atenção em outros países, com estrutura de desenvolvimento semelhante à nossa, eles viram um fato positivo na participação da mulher de maneira ativa, que ela esteja sentada à mesa discutindo agendas importantes de seus países. É uma oportunidade interessante e estimulante”.
A perita Vilma Guimarães chegou a Brasília em 1988 e foi atuar num fundo de previdência. Quando começou a entender mais sobre a área, passou a auxiliar o setor jurídico. “Com isso eu fui desenvolvendo um conhecimento, e depois voltei para prestar consultoria, usando minha expertise para auxiliar em ações judiciais”, contou Vilma. “Comecei a gostar mais da área e comecei a estudar, fazer cursos e me especializar, até que em 2014 passei a trabalhar como autônoma e professora em cursos de perícia”.
Para a economista, as mulheres têm muito a acrescentar nesta área, mas ainda são minoria – mais de 70% dos peritos judiciais são homens. “Temos condições de otimizar nosso tempo e trabalhar em horários alternativos, mas é uma atividade em que precisamos estudar sempre”, ressalta. “Ela requer raciocínio lógico e matemática, vamos nos cadastrar em alguns tribunais e podemos atuar em cálculos trabalhistas, de horas extras, insalubridade, financiamentos imobiliários, empréstimos bancários, previdência, perícia ambiental, dissolução de sociedades, questões familiares e comerciais e avaliação de empresas”.
Petula Ponciano trouxe a participação da mulher economista na Embrapa e falou sobre um campo novo, de socioeconomia. “Essa área busca avaliar os impactos econômicos, sociais e o avanço do conhecimento das tecnologias desenvolvidas pela empresa, para prestar contas à sociedade sobre o retorno dos gastos com a pesquisa agrícola”, explicou. “Desta forma, a economia agrícola se alia a um viés qualitativo, e não apenas quantitativo, avaliando os impactos sociais, e não só os econômicos”.
Em sua atuação na Embrapa, Petula destacou a multidisciplinaridade das equipes com que trabalha. “O curso de economia tem isso. Você tem análises micro e macro, de cenários complexos, entendendo outras áreas do conhecimento. Avaliação econômico-financeira de tecnologias, avaliação de cenários macroeconômicos e apoio ao desenvolvimento, bem como construção de políticas públicas, são algumas das áreas de atuação”, conta a economista. “Já fui coordenadora de curso e é importante mostrar ao pessoal da graduação que o leque de possibilidades é tão amplo, que você precisa começar a se identificar com alguma área”.
Daniela Freddo, professora universitária, destacou que as atividades vão além do ensino, pesquisa e extensão. “Temos que fazer a gestão também, já que é preciso gerir uma universidade pública”, afirmou. Ela também trouxe alguns números do departamento de economia da Universidade de Brasília. São 38 professores, sendo 10 mulheres; em 2019 houve 120 ingressantes, sendo 31 mulheres – no entanto, elas têm uma taxa de conclusão de curso mais elevada que a dos homens. “Embora o chefe de departamento seja um homem, as mulheres estão em cargos de gestão”.
Enquanto cursava o doutorado, Daniela teve uma filha. “Junto com a pesquisa, temos que passar pela sobrecarga da jornada dupla. Mas estamos construindo redes de apoio, os homens estão entendendo que têm que assumir outro papel dentro da sociedade, e essa também é uma linha de pesquisa dentro do curso de Ciências Econômicas”, pontuou a professora.
A conselheira federal Mônica Beraldo Fabrício falou sobre a importância das economistas no setor mineral, e as equipes também são multidisciplinares, envolvendo engenheiros de minas, geólogos, paleontólogos e engenheiros químicos. “Eu, com o curso de economia e especialização em engenharia econômica, fui treinada em economia mineral por dois professores, um geólogo e um engenheiro de minas”, disse Mônica. “Só se ouve algo de mineração quando acontece alguma notícia ruim. A mineração tem que combinar com desenvolvimento sustentável e economicamente viável. Na produção e comercialização está o economista”.
Atualmente a compensação financeira pela exploração de recursos minerais gera cerca de 10 bilhões de reais em arrecadação por ano. “Temos o mineral que pertence ao Estado, mas há todo o processo legal para que este mineral seja aproveitado em benefício da sociedade”, apontou. “A participação das mulheres nesta área vem crescendo gradativamente”.
Júlia Cardoso, estudante de Ciências Econômicas e vice-presidente do Corecon Acadêmico, também trouxe sua experiência. Ela vê um maior equilíbrio no número de homens e mulheres cursando economia. “Muitos querem trabalhar em bancos e consultoria. Essa área da economia da mineração eu não conhecia, e acabei me interessando”, frisou.
Júlia conversou com outras estudantes sobre os desafios que elas encontram, e um deles sempre aparece nas respostas: o machismo. “Muitos desconfiam delas, colocam sua capacidade em dúvida. Precisamos nos desdobrar, nos multiplicar para fazer nosso conhecimento ter valor e credibilidade”, expressou. “Na universidade em que estudo não vejo tanto isso, mas tenho amigas que desistiram do curso por causa do machismo muito presente. O Corecon Acadêmico me deu a oportunidade de entrar em contato com pessoas de outras universidades”.
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