No Senado, vice-presidente fala sobre conjuntura
O vice-presidente do Conselho Federal de Economia, Antonio Corrêa de Lacerda, participou nesta terça-feira (18) de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Ele esteve junto aos economistas Fernando Gaiger e Guilherme Mello para falar sobre a conjuntura econômica do Brasil no contexto da crise vivida desde 2015 e a perspectiva de baixo crescimento em 2019.
Mello foi o primeiro a falar. Descreveu a crise atual como a mais profunda e duradoura da história do Brasil, causada por cinco choques ao mesmo tempo: juros, câmbio, preços administrados, inflação e compressão dos gastos públicos. Afirmou que a agenda econômica que vem sendo seguida desde 2015 não produziu resultados e sugeriu, como alternativas, uma política anticíclica, política cambial ativa, política monetária com duplo mandato, investimento público e foco no mercado interno.
Lacerda iniciou sua fala apontando que há muitos componentes domésticos na crise brasileira e que o crescimento do primeiro semestre do ano, na melhor das hipóteses, será zero. Criticou a ideia de que a retomada da confiança fará o Brasil sair da crise e discorreu sobre o setor industrial – que ainda tem muita capacidade ociosa. “A indústria está no mesmo nível de 2008. Desde então o consumo cresceu, mas a competitividade, o câmbio e os juros provocaram um descolamento entre o consumo e a produção industrial. Nossa política comercial permitiu que o crescimento do consumo viesse pelas importações”, apontou o vice-presidente do Cofecon.
O não crescimento da indústria contribui para o aumento do desemprego. E, quanto aos investimentos, Lacerda caracterizou o indicador como estando em seu menor nível histórico no Brasil. “O Estado não está cumprindo sua função anticíclica. Além do efeito multiplicador, isso teria também um efeito demonstração, porque o Estado mostraria ao setor privado que sim, poderia investir neste momento”.
O vice-presidente caracterizou o quadro fiscal do Brasil como autofágico – porque o corte de gastos do governo deprime a atividade econômica e faz cair a arrecadação, levando à necessidade de outro corte de gastos. Também falou sobre o custo de rolagem da dívida pública. “Hoje nós temos uma sociedade de rentistas. O sonho das novas gerações é ser rentistas. Mas nós só vamos gerar emprego e renda com a atividade econômica real”.
Um dos fatores que pode ser trabalhado para tirar o Brasil da crise, na opinião de Lacerda, é o custo do crédito. “E o papel do BNDES é insubstituível”, afirmou. “Muita coisa pode ser feita em termos de política econômica. Mas o que menos pode ser feito é o que está sendo feito pelo governo atual, de deixar tudo para o setor privado. Quanto a isso, não há precedente na boa teoria econômica”.
Fernando Geiger foi o último a falar e caracterizou a crise em comparação com outras. “Levamos quatro anos para superar as crises de 1929 e 1964, e seis para superar a do governo Collor. Agora levaremos oito anos, se pouco”, avaliou. “Temos uma crise fabricada. As crises fiscal e política se retroalimentam”. Geiger também caracterizou a reforma da Previdência como algo para médio prazo, mas que no curto prazo pode não trazer crescimento para o Brasil. “Marcos Lisboa diz que estamos às portas do inferno. Já estamos no inferno há uns três anos e o que mais me preocupa é a letargia do governo”. O economista também apontou para a importância da proteção social e das políticas redistributivas, afirmando que esta é a razão de não haver hoje um caos social, apesar de ser uma crise mais longa do que a que houve nos anos 80.
Após as apresentações, os economistas responderam as perguntas feitas pelos senadores e também pelo deputado Paulo Teixeira, que esteve presente à audiência. A transmissão pode ser acessada clicando AQUI.