Artigo – Nobel para Marx

  • 13 de outubro de 2017
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O Prêmio Nobel de Economia de 2017 foi concedido ao economista norte-americano Richard Thaler, da Universidade de Chicago, por seus estudos sobre a chamada racionalidade limitada, ou seja, que nem sempre as decisões econômicas primam pela racionalidade. Crítico ácido das modelagens econômicas, Thaler comunga das ideias de Robert Shiller, que em 2013 ganhou o Nobel por demonstrar como o comportamento irracional contribuiu para a formação das chamadas “bolhas” nos preços de mercado na crise do subprime.

Nessa linha, bem poderia a Real Academia Sueca de Ciências conceder o Prêmio Nobel de Economia, ainda que de forma póstuma, a Karl Marx, que há 150 anos, ao estudar as entranhas do sistema capitalista, revelava que suas persistentes crises (ou crise permanente) se deviam não à irracionalidade nas decisões individuais, mas à própria irracionalidade do processo produtivo. Marx afirmava que a concorrência provocava a anarquia da produção pois, competindo entre si, os capitalistas colocavam produtos em excesso no mercado e, dada a limitada capacidade de consumo dos trabalhadores devido aos baixos salários, geravam recorrentes crises de superprodução. Ademais, no processo de concorrência acirrada e violenta havia a eliminação dos produtores mais fracos, gerando um processo de acumulação do capital em poucas mãos e a proletarização da sociedade, limitando a capacidade de investimento.

Desde então, o sistema capitalista se tornou cada vez mais irracional, assentado na extraordinária concentração da renda e da riqueza, na extrema especulação dos mercados derivativos e na corrupção sistêmica dos lobbies. Um bom exemplo é o Brasil, onde o mercado comemorava ontem, com recorde na Bolsa de São Paulo, o voto do relator refutando a denúncia da PGR contra Temer. Em suma, para o mercado pouco importa se Temer é corrupto ou chefe de quadrilha, o que importa é que ele toca as reformas que interessam ao mercado, mesmo que com apoio de apenas 3% do povo brasileiro.


Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia

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