Novo aumento da Selic

  • 20 de setembro de 2024
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Artigo de opinião por Roberto Piscitelli, membro da Comissão de Política Econômica do Cofecon

O Copom decidiu aquilo que todo o mundo já sabia: aumentou em 0,25 pontos percentuais a SELIC, agora em 10,75% anuais, enquanto os Estados Unidos faziam um movimento inverso, na mesma direção de outros países. Essa decisão veio, paradoxalmente, logo após o registro de uma deflação no mês anterior.

Utilizada como o único instrumento de combate à inflação no Brasil, a medida é ainda mais difícil de se compatibilizar com outros indicadores. A meta de inflação para este ano está na faixa de 1,5% a 4,5%, e o próprio “mercado” estima uma inflação de 4,35%; a taxa real de juros, tendo como referência a inflação projetada para os próximos 12 meses, se situa, agora em 7,33%, o que nos coloca em segundo lugar no globo, superados apenas pela Rússia (há 2 anos em guerra e sujeita às sanções do Ocidente), com 9,05%, e tendo a Turquia num distante 3º lugar, com 5,47%.

Ressalte-se que a votação foi unânime (nenhuma alusão a Nelson Rodrigues), nela incluídos os dirigentes já indicados pelo atual governo – que, ao que tudo indica, não se sensibilizam diante das queixas e das críticas do Presidente da República, nem de instituições como a CNI, que manifestou indignação. Sabemos também que as indicações para a diretoria do Banco Central estão sujeitas a sabatina no senado Federal, e o atual Congresso é particularmente sensível aos interesses do mercado financeiro.

Como o amanhã pode ser pior que hoje, a decisão do Copom foi festejada como “o início de um ciclo de alta”, que seria a resposta a um ambiente externo desafiador, o que chega a ser um pleonasmo.

Pode ser que as autoridades estejam preocupadas com possíveis choques de oferta, derivadas, em certa medida, por quebras parciais de safras e problemas decorrentes das enchentes e estiagens. Mas isso nos leva a especular se excesso ou escassez de chuvas se combatem com elevações de taxas de juros ou qual seria o efeito prático de tais medidas.

Fica – é evidente – uma grande frustração, num cenário de aumento do PIB acima das expectativas, crescimento e fortalecimento do mercado de trabalho, expansão da massa salarial e aumento das remunerações do trabalho. A economia suporta esse círculo virtuoso? O investimento cresceu 4,6% em maio, atingindo 18% do PIB, o maior nível desde novembro de 2022; multiplicam-se os projetos, estimulados inclusive por capitais externos, numa perspectiva de expansão da capacidade produtiva do País. Mais uma vez, refreamos nossas expectativas, renunciamos às nossas ambições de iniciar um novo ciclo, este de crescimento continuado e consistente, em benefício da austeridade, que pode se converter em austericídio.

O professor José Luis Oreiro, em brilhante artigo divulgado pela ABED, calcula o custo da elevação da SELIC, mediante o seguinte raciocínio: nosso PIB é de R$ 11 trilhões; a dívida pública, cerca de R$ 7,5 trilhões; a parte atrelada à Selic corresponde a R$ 3,3 trilhões. Um aumento de 0.25 ponto percentual, em um ano, representa R$ 8,3 bilhões! E lembrou a mensagem de Churchill a Chamberlain: entre a guerra e a honra, escolheu a honra e teve a guerra como desonra. Talvez se possa dizer que, entre o crescimento e a austeridade, ficamos com a desaceleração; em vez da ousadia, optamos pelo conservadorismo; em vez de olharmos para o futuro, continuamos mergulhados no passado.

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