Artigo – O rei está nu
Quando o dinamarquês Christian Andersen escreveu, em 1837, “A roupa nova do Rei”, não imaginava que quase 200 anos depois seu conto se encaixaria como uma luva no panorama atual do Brasil. O conto fala de um ladrão que, disfarçado de alfaiate, convence o rei que poderia fazer uma roupa belíssima, mas que somente as pessoas mais inteligentes poderiam vê-la. O vaidoso rei gostou da ideia e deu ao falso alfaiate várias caixas com seda, rolos de linha de ouro e outras riquezas. O espertalhão guardou os tesouros e foi para o tear fingir tecer fios invisíveis.
Findado o trabalho, o falso alfaiate mostrou a mesa vazia, e, embora não visse nada além da mesa, o rei bradou: “Que lindas vestes!”, com todas as pessoas da corte concordando, para não parecerem idiotas. No desfile real para exibir a nova roupa do rei, ninguém se atreveu a desmascarar a farsa e bradar o que realmente via, exceto uma criança, que gritou: “O rei está nu!”. O rei se encolhe e a multidão se alvoraça, percebendo que a afirmação é verdadeira.
Michel Temer passou sua primeira semana de presidente efetivo desfilando pela China, na reunião do G-20, exibindo sua nova roupa de pretenso presidente legítimo do Brasil, costurada pelos espertalhões palacianos. Estivesse no Brasil, ouviria não uma única criança, mas 100 mil pessoas na Avenida Paulista e outras dezenas de milhares Brasil afora gritando “Esta roupa é falsa, trata-se de um golpista!”.
De volta ao Brasil, por onde passar, haverá certamente milhares de brasileiros gritando: “Fora Temer”! Este é o enredo dos próximos dois anos e oito meses, caso o “rei usurpador” não seja destituído pela reação dos trabalhadores à sua intenção de jogar nos ombros do povo o custo do ajuste fiscal, reduzindo o orçamento da saúde e da educação e retirando direitos sociais para preservar os privilégios da elite que respaldou sua trama.
Júlio Miragaya – Presidente do Conselho Federal de Economia