Artigo – O santo é de barro

  • 31 de março de 2016
  • Sem categoria
  • 0
  • 10

Há exatamente 52 anos um golpe instalou a ditadura militar no País, inaugurando uma era de perseguição, tortura e privação de direitos. Volta à tona a questão da ruptura institucional, agora e em 1964, patrocinada pelo mercado financeiro e grandes corporações, respaldados pela classe média conservadora, a grande mídia e a Fiesp, tendo a tardia adesão da OAB, que também apoiou o golpe militar em 1964.

Diante da fragilidade dos argumentos apresentados para o impeachment – as pedaladas fiscais também foram feitas por ex-presidentes e continuam com os atuais governadores; a prática de caixa dois é a regra em todas as principais campanhas eleitorais – o mote para destituir a presidente passou a ser a crise econômica, o que tampouco se sustenta, pois inúmeros países enfrentaram e enfrentam quedas no PIB sem ruptura institucional.

O fato é que a rapidez com que se busca a destituição da presidente Dilma só não é maior que a avidez em se negociar os termos do novo governo Temer. De que maneira o programa econômico “Uma ponte para o futuro”, apresentado pelo PMDB, e que está sendo abraçado pela oposição, enfrentaria a aguda crise econômica? A resposta é óbvia: jogando o ônus do ajuste fiscal nas costas da classe trabalhadora, com reforma da previdência social, fim da política de valorização do salário mínimo e forte corte nos programas sociais, preservando-se e ampliando-se os privilégios do grande capital. Golpear as conquistas sociais é o propósito inconfessável do golpe.

É bom, contudo, irem devagar com o andor porque o santo é de barro. Alguém em sã consciência acredita que o retrocesso social seria feito sem resistência? As centrais sindicais e os movimentos sociais, que já estão profundamente insatisfeitos com a condução vacilante do governo Dilma, ficariam de braços cruzados? O palco migraria da Paulista para o ABC.

Júlio Miragaya – Economista, doutor em desenvolvimento sustentável.

Share this Post

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>
*
*