Pandemia agrava a pobreza no Brasil
O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, falou à rádio CBN na última sexta-feira (10) sobre o empobrecimento da população brasileira, causado pela crise econômica. Ele analisou a forma como a emergência de saúde foi enfrentada no País, bem como seus desdobramentos econômicos.
“A pandemia por si só é um fator relevante, principalmente por causa da forma equivocada como o governo brasileiro fez o enfrentamento – melhor dizendo, não o fez. Demorou a reagir, houve todo um negacionismo”, criticou Lacerda. “Mas a economia brasileira já vinha de um desempenho pífio. Em 2019 o PIB cresceu pouco. Crescimento não é condição suficiente, mas é necessária pra gerar emprego, renda, pra que a economia possa reagir, e nós não temos isso há muito tempo no Brasil.
A política econômica de Bolsonaro e Guedes parte de um vício de origem que é achar que o mercado vai resolver. É algo absolutamente defasado. O Estado tem um papel fundamental como coordenador das estratégias de crescimento”.
O presidente do Cofecon critica o que chamou de “apequenamento das funções da política econômica”: a junção de vários ministérios para criar o Ministério da Economia. “Criou-se um superministério que não tem interlocução com o trabalhador, com o empresário, com a sociedade. Qual a política industrial? A política de desenvolvimento? Não tem. Fica muito ao sabor das decisões individuais. Não há cenário estimulante para realizar investimento produtivo”, afirmou Lacerda.
As medidas tentadas pelo governo para combater a inflação são, na visão do economista, apenas paliativas. “O melhor remédio contra o desemprego é geração de emprego. Pra isso é preciso crescimento; e pra ter crescimento, tem que ter produção, e pra ter produção, uma noção clara do aumento da demanda. Com a economia estagnada temos um círculo vicioso no qual trabalhadores perdem empregos e negócios são encerrados”, criticou. “Os paliativos são muito tênues. O governo descontinuou o Bolsa-Família, um programa consagrado que funcionava bem, para adotar um programa “Auxilio Brasil”, que se mostrou instável e insuficiente”.
Questionado se o desempenho econômico poderia ser outro se não houvesse o fechamento da economia, Lacerda respondeu que é pouco provável. “O bem mais valioso que todos nós temos é a vida. O governo federal adiou a compra de medicamentos, as medidas preventivas, as ações de saúde. Ele tem sua realidade paralela, que atende a interesses econômicos e financeiros muito fortes em detrimento da população. Hoje são quase 700 mil mortes, fora a subnotificação”.
Sobre a inflação, Lacerda destacou o componente internacional (com a alta dos preços das commodities), mas afirmou que há um componente local. “O único instrumento utilizado no Brasil (para combater a inflação), de forma ineficiente, é o aumento dos juros. O que deveríamos fazer? Primeiro, não repassar integralmente o preço do petróleo para os combustíveis. E segundo, não deixar o dólar tão livre no Brasil, eliminando a volatilidade da taxa de câmbio. Os governos Temer e Bolsonaro eliminaram os estoques reguladores de grãos”, abordou o presidente do Cofecon. E, ao comentar o pedido do ministro Paulo Guedes aos donos de supermercados, foi irônico: “O governo tem que dar o exemplo e começar pela Petrobras, que é uma grande repassadora de preços que tem um lucro fantástico. Desde as décadas de 80, 90, sabemos que combater inflação via congelamento de preços nunca foi algo efetivo. É uma cortina de fumaça, da mesma forma que a tentativa de congelar impostos sobre combustíveis, tentando mostrar algum resultado de curto prazo para algo que não foi feito durante três anos e meio”.
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