Podcast Economistas: Ciência econômica para transformar a realidade

  • 19 de julho de 2024
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Ex-ministra Tereza Campello fala sobre o curso de Ciências Econômicas e as ferramentas que ele proporciona para trabalhar com inovação e desenvolvimento

Está no ar mais uma edição do podcast Economistas e o tema desta semana é a importância do curso de ciências econômicas e da visão que ele proporciona para o enfrentamento de problemas socioeconômicos. A entrevistada é a economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Ela foi responsável pelo programa Brasil Sem Miséria, que ajudou a tirar o nosso país em 2014 do Mapa da Fome publicado pela Organização das Nações Unidas. O podcast pode ser ouvido na sua plataforma favorita ou pelo player abaixo.

Tereza já era aluna de outro curso na Universidade Federal de Uberlândia, mas decidiu prestar um novo vestibular e ingressou no curso de Ciências Econômicas. Sua principal motivação, conta a economista, estava na vontade de transformar a realidade. “Se o meu desejo fosse ser uma economista de mercado, atuar na bolsa de valores, se o meu desejo fosse atuar com finanças, talvez o curso de engenharia fosse até mais apropriado. A professora Maria da Conceição Tavares sempre falava isso. O curso de economia é um curso de humanas, para quem quer mudar o mundo, buscando diminuir a desigualdade e melhorar a vida da população e o ambiente de negócios”, argumenta Teresa. “Eu queria atuar transformando a realidade e colocando meu conhecimento a favor da construção de um mundo melhor. O curso de economia é excepcional, porque você estuda história, estuda relações, sociologia, ele te obriga a ter uma visão multidimensional da realidade e te dá um conjunto de ferramentas para atuar. Tomei a decisão certa e estou muito feliz com ela”.

Foi essa vontade que pautou sua carreira como economista. Ela graduou-se em 1988 e foi trabalhar na prefeitura de Porto Alegre, onde atuou em tarefas bastante diferentes, que vão desde a reforma tributária (com as modificações trazidas pela Constituição Federal promulgada naquele ano) até a coordenação do orçamento municipal. Mais tarde, também trabalhou na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e assumiu o cargo de secretária-geral-adjunta do governo estadual.

“O curso de economia é excepcional, porque você estuda história, estuda relações, sociologia, ele te obriga a ter uma visão multidimensional da realidade e te dá um conjunto de ferramentas para atuar. Tomei a decisão certa e estou muito feliz com ela”.

Tereza Campello, economista, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Em 2003, Tereza passou a trabalhar no governo federal, sendo assessora especial da Presidência da República, com forte atuação no acompanhamento de políticas de desenvolvimento econômico e social. A partir de 2011 ela tornou-se ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Na ocasião, o Brasil já tinha programas sociais que reduziram de forma expressiva a fome e a pobreza. Mas, para continuar diminuindo estes índices, era preciso realizar um trabalho mais aprofundado.

“Não bastava fazer mais do mesmo. O que foi feito nos oito primeiros anos não era suficiente para dar conta da continuidade do desafio. A fome e a pobreza já haviam sido reduzidas a um núcleo resistente, para o qual o conjunto das políticas públicas já padronizadas, com escala nacional, não era suficiente”, comenta a ex-ministra. “A situação exigia que, para continuar reduzindo a fome e a pobreza, a gente construísse um arcabouço muito mais complexo e integrado de políticas públicas”.

 Para construir este conjunto mais complexo, um dos elementos que fez toda a diferença é a visão do profissional de ciências econômicas. “Onde que ser economista me ajudou? Ajudou em vários sentidos, um deles é entender que tem gente que diz: precisa de emprego. Essa população mais pobre e vulnerável é a última a ser empregada e a primeira a ser desempregada. Então tem um nível de volatilidade de renda”, afirmou Tereza. “Quando falamos de pobreza e desigualdade, muita gente encara como uma agenda social. Uma questão de justiça, de direitos. Sendo economista, eu sei que isso é muito mais. Hoje temos um vasto arcabouço teórico e vasta evidência científica que há um nível de pobreza e desigualdade que impede o desenvolvimento das economias”.

Assim, aponta Tereza, a desigualdade, por si só, é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável. “Não é só uma questão de justiça, portanto. É também uma questão de crescimento econômico. Mais uma vez falando da Maria da Conceição Tavares, ela sempre dizia que o Brasil tem voos de galinha. Bate num teto”, pontuou a economista. “O que é esse teto? A desigualdade, a parcela da população completamente excluída de bens, serviço, acesso a consumo, e aí você entra com uma ação, e aí pensando como economista, não estou fazendo só justiça, mas enfrentando um dos grandes obstáculos do Brasil ao crescimento econômico sustentável”.

“Quando falamos de pobreza e desigualdade, muita gente encara como uma agenda social. Uma questão de justiça, de direitos. Sendo economista, eu sei que isso é muito mais. Hoje temos um vasto arcabouço teórico e vasta evidência científica que há um nível de pobreza e desigualdade que impede o desenvolvimento das economias”.

Tereza Campello

Um exemplo prático de como a visão do profissional economista pode auxiliar na busca por soluções diferentes para um problema específico está na construção de cisternas na região do semiárido nordestino como forma de combate à pobreza. A captação de água é fundamental para tornar viáveis as terras de muitos pequenos proprietários, combatendo problemas como o êxodo rural e ajudando a mudar o perfil econômico de uma região. Dessa forma, o economista enxerga a cisterna como um bem de produção, algo com potencial para trazer esta transformação para uma região anteriormente conhecida pela seca e pela pobreza.

“Gosto do exemplo das cisternas. Não é a única forma de levar água para a população, é melhor se puder ter uma rede de fornecimento contínuo, mas no semiárido há uma casa aqui, outra daqui a cinco quilômetros. É economicamente inviável”, observa Teresa. “A cisterna usa a captação de água do telhado. No Nordeste chove, mas as chuvas não são regulares. A tecnologia de reservar água se mostrou bem-sucedida e a cisterna é um equipamento que dura trinta anos”.

“A cisterna faz justiça social, porque não ter água é a base da tragédia. Não adianta ter um saco de feijão se não tiver água para cozinhar”, continua a ex-ministra. “Mas, pensando como economista, a cisterna é um bem de produção. As pessoas não pensam nisso. Se o pequeno produtor não tiver água, ele vai embora e essa terra vai para a mão de um grande proprietário, aumentando a concentração fundiária. Ele vai para a cidade fazer algo que não sabe, vai ser mais um pobre, ou mais um morador de rua com emprego desqualificado. A pior coisa é ele deixar de produzir comida. A cisterna não é um bem de capital, mas é um bem de produção, que torna essa terra viável”.

Tereza Campello destaca que o curso de economia proporciona uma grande quantidade de ferramentas para desenvolver o Brasil, e existe uma variedade de áreas nas quais o profissional economista pode trazer inovação. “É um dos cursos mais ricos. Temos a oportunidade de estudar história com um olhar diferenciado, vendo o que motiva e organiza a dinâmica econômica”, comenta a economista. “Tem um conjunto de ferramentas fantásticas para desenvolver o Brasil. Estamos frente a uma encruzilhada. Economistas bem formados, que leem, que estudem, que estejam abertos a estudar, têm nas mãos um conjunto de ferramentas. O curso te dá a possibilidade de trabalhar com inovação, ajudando a agenda social e ambiental. Terminem o curso para transformar a realidade para melhor, para enfrentar a desigualdade”.

Tereza Campello falou sobre estes e outros assuntos em uma entrevista exclusiva publicada na edição nº 52 da revista Economistas. Ela pode ser acessada clicando AQUI (https://online.flippingbook.com/view/309079929/).

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