Podcast Economistas: Como um banco comunitário pode fazer a diferença no território

  • 4 de outubro de 2024
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Episódio fala sobre os bancos Alegrias, em Paraty, e Jardim Botânico, em João Pessoa. Conheça suas atividades, projetos e impactos sobre a comunidade em que atuam

Os bancos comunitários são uma estratégia de desenvolvimento local que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. Eles geralmente são criados em territórios economicamente e socialmente vulneráveis e funcionam com base nos princípios da economia solidária, aumentando o volume de transações econômicas nestes espaços. E o podcast Economistas desta semana fala sobre dois deles. Ouça na sua plataforma favorita ou no player abaixo:

Na década de 1990 o Banco Palmas foi pioneiro no uso de moeda social local e no desenvolvimento de uma metodologia para apoiar comunidades de baixa renda. Ele opera no Conjunto Palmeira, um bairro localizado na periferia de Fortaleza, no Ceará, e que tinha 25 mil habitantes. A partir do sucesso desta experiência, o modelo tem sido replicado em outros lugares do Brasil.

Banco Alegrias

Em 2018, numa comunidade quilombola de Paraty, no Rio de Janeiro, a Rede Alegrias iniciou um movimento para criar uma moeda social que valorizasse os talentos das pessoas. O movimento foi inspirado na moeda Inkiri, que circula na Ecovila Inkiri Piracanga, na Bahia. Foi assim que surgiu a moeda Alegrias. A iniciativa encontrou apoio em algumas instituições e a moeda social ganhou força durante a pandemia e já circula entre várias pessoas e estabelecimentos da cidade. O passo seguinte foi a criação de um banco, uma iniciativa que contou com o suporte da Rede Paulista de Bancos Comunitários

“Nós trouxemos, no momento da criação do banco comunitário, a experiência da moeda complementar, que usávamos há quatro anos. E esta moeda nos ensinou muito sobre o valor da comunidade e quanto ela é importante para o fortalecimento dessa economia”, explica Márcia Targino, gestora do Banco Alegrias. “O relacionamento e as trocas nos mostraram o valor que tem estar dentro de uma comunidade”.

O impacto do Banco Alegrias na cidade de Paraty pode ser medido por meio de números. Desde o início do trabalho, mais de 278 mil reais foram convertidos em moeda social. Mas quando se leva em conta a circulação de dinheiro dentro da comunidade, o valor de compras e vendas supera 1 milhão de reais.

“Nós fazemos trimestralmente o relatório de transparência. Como o banco comunitário e a moeda social podem transformar o território, como isso pode trazer dignidade. Hoje temos, em circulação, 77 mil Alegrias”, conta Márcia. Dos 278 mil reais originalmente convertidos em moeda social, uma parte foi utilizada para pagamento de boletos – algo permitido pelo aplicativo E-dinheiro. “Em circulação e compra/venda, mais de três vezes este valor circulou dentro da comunidade na forma de moeda social. Os números mostram que tanto a moeda social como os bancos comunitários podem fazer diferença mesmo tendo um pequeno número de associados”.

Além do banco comunitário, a Rede Alegrias promoveu outras iniciativas de sucesso. Em 2021 ela realizou um curso de capacitação em economia local, moedas sociais e finanças solidárias; no ano seguinte, um curso sobre soluções criativas para desafios sociais contemporâneos; e em 2023, finanças regenerativas como ferramenta de construção de futuros desejáveis.

Banco Jardim Botânico

Em 2013 foi inaugurado na Paraíba o Banco Jardim Botânico. As discussões começaram um ano e meio antes, com a criação de um Conselho Gestor e um Conselho de Avaliação de Crédito. O fundador, Daniel Santos Pereira, foi até Fortaleza com algumas pessoas da comunidade para conhecer a experiência do Banco Palmas. A moeda social Orquídea foi lançada em 2012, durante o II Encontro Nordestino de Incubadoras de Empreendimentos Solidários, e no ano seguinte a sede do banco foi inaugurada numa cerimônia que teve a presença de vários representantes de instituições não-governamentais e do poder público estadual e municipal, além de universidades e moradores.

“Nós temos a parceria do Comitê de Energias Renováveis, de um projeto de extensão universitária da Universidade Federal da Paraíba e do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia”, comenta Daniel. “Este projeto visa fazer com que o nosso banco comunitário crie a primeira cooperativa de crédito solar comunitária no estado e possamos garantir energia limpa, de qualidade e a baixo custo para os moradores da comunidade e para o banco comunitário”.

Diferente de outros bancos que atuam em cidades inteiras ou bairros, o banco Jardim Botânico atua na Comunidade São Rafael, que não chega a ser um bairro em João Pessoa. O mapeamento das necessidades desta comunidade foi um fator importante para direcionar as atividades do banco.

“Tínhamos dificuldade para fazer com que a nossa comunidade atuasse em outras áreas para gerar crescimento sustentável dentro do território. Quando fomos conhecer a experiência do Banco Palmas, uma das ações da metodologia é o mapeamento socioeconômico”, comentou. “Mapeamos a comunidade para saber o que ela precisava e como o banco poderia ajudar. Visitamos casa por casa para saber quantos moradores existiam, quantos eram homens, mulheres, crianças, quantos trabalhavam com carteira assinada ou tinham seu próprio negócio, ou se trabalhavam em empreendimentos coletivos”.

Na ocasião foi constatado que 70% das pessoas da comunidade estavam gerando renda dentro do próprio território. Eram cerca de 70 estabelecimentos comerciais, 3.500 habitantes e 500 residências. O mapeamento também permitiu verificar que dentro da Comunidade São Rafael havia equipamentos públicos (como uma escola, uma unidade de saúde, uma praça, uma passarela metálica, uma estação elevatória de esgoto e uma rádio – que é, inclusive a rádio mais antiga da Paraíba), e o trabalho do banco também passou por discutir a melhor forma de mantê-los.

“Além da construção dessa usina solar em parceria com a UFPB, o banco está investindo numa padaria comunitária e numa horta comunitária. Poderemos ter uma produção de pães para vendê-los mais barato”, aponta Pereira. “Mais pessoas poderão comer e comprar pão, e elas vão economizar para comprar outras coisas e estimular a economia do nosso território”.

Outro projeto é um biodigestor de esgoto para a produção de gás natural. “Esse gás vai alimentar os fornos da nossa padaria, diminuindo ainda mais o custo dos pães. Ao mesmo tempo, criaremos este espaço 100% sustentável ambientalmente e financeiramente, que é a sede do banco comunitário Jardim Botânico”, comemora. “Com isso, poderemos fazer um debate mais aprofundado sobre sustentabilidade com os moradores da periferia”.

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