Podcast Economistas: Financiamento dos bancos comunitários
Atualmente mais de 150 bancos comunitários atuam em 22 estados e 90 municípios e contam com certa de 250 mil usuários, com cerca de 28 mil comércios recebendo as moedas sociais
Está no ar a 120ª edição do podcast Economistas e o tema da semana são os bancos comunitários. Eles desempenham um papel importante no Brasil, especialmente em comunidades de baixa renda, promovendo desenvolvimento local e inclusão financeira por meio de serviços bancários acessíveis e adaptados ao lugar em que atuam. Conversamos com o economista Wiliam Retamiro, doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos. Clique AQUI para ouvir.
Atualmente mais de 150 bancos comunitários atuam em 22 estados e 90 municípios brasileiros. Possuem cerca de 250 mil usuários e 28 mil comércios recebem as moedas sociais – e por falar nelas, foram 800 milhões de reais em transações no ano de 2023.
“Não são valores baixos, estamos falando de substancialidade e de pessoas que estão inseridas num processo econômico paralelo ao convencional”, explicou Retamiro. “Ainda temos um número grande de desbancarizados no Brasil, cerca de 30 a 35 milhões de pessoas. O crédito é uma ferramenta de desenvolvimento e democratização das finanças”.
Uma das dificuldades enfrentadas pelos bancos comunitários é que eles não têm permissão para captar recursos junto ao público como outros bancos fazem. Por isso, uma das linhas de estudo desenvolvidas pelo economista tem a ver com inversores financeiros solidários. Numa pesquisa feita com dois bancos, ele verificou que aproximadamente metade das pessoas que compõem a comunidade na qual cada um atua estariam dispostas a aportar recursos – e elas desejariam receber, além de uma remuneração acima da inflação, indicadores de que houve uma dinamização na economia local.
“Vemos que há um público que gostaria de atender, caso fosse permitido. Estaríamos meio que profanando o sentido convencional de se tomar uma aplicação financeira e colocar no sistema financeiro convencional, que pouco retorna para a sociedade e, quando retorna, fica quase inacessível devido às altas taxas de juros”, observou Retamiro. “Se houver crédito o empresariado fica mais animado, sabe que a população terá uma melhor renda, e havendo maior consumo, maior produção, emprego e renda”.
A sustentabilidade dos bancos comunitários é um tema importante. Muitos deles dependem de transferências de recursos de governos ou de ONGs para manter suas atividades. A área de gestão também enfrenta grandes desafios e, em alguns casos, faltam indicadores que poderiam otimizar a utilização dos recursos. Por isso, além de apontar para a necessidade de outras formas de financiamento dos bancos comunitários, Wiliam Retamiro também defende uma aproximação por parte da universidade.
“Muitos bancos comunitários estão na luta, fazendo suas contas e planilhas. Se houvesse uma instrumentalização dos indicadores para fortalecer a gestão e a credibilidade perante o público, haveria uma situação melhor”, afirma o economista. “Eles são um instrumento fundamental de combate à pobreza, mas ainda estão muito dependentes de transferências públicas. Em mudanças de governo, ficam vulneráveis. É preciso buscar alternativa para que essa dependência seja menor. Na pesquisa que fizemos, 76% das pessoas demonstraram interesse em participar. Há a necessidade de uma aproximação da ciência, da Academia com a comunidade para fortalecer este conhecimento e elevar a quantidade de inversores financeiros”.
Para se aprofundar no assunto
O Cofecon realizou um debate com o economista Wiliam Retamiro, que pode ser assistido na íntegra clicando AQUI. Além disso, o Cofecon oferece em sua plataforma EAD (clique AQUI para acessar) um curso sobre bancos comunitários e moedas sociais. São quatro aulas abordando assuntos como conceitos e sustentabilidade dos bancos comunitários, moedas sociais, digitalização, microcrédito e renda básica. Também são discutidos os casos práticos dos bancos Mumbuca, Alegrias e Preventório, que atuam em diferentes municípios do estado do Rio de Janeiro.