Podcast Economistas: O que atrapalha o crescimento econômico da América Latina?
Economista Antônio Prado aponta que baixo investimento, endividamento e impactos ambientais afetam negativamente a economia da região. OCDE projeta alta de 1,4% em 2024
Está no ar a edição número 114 do podcast Economistas e o tema, desta vez, é o crescimento econômico da América Latina. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um estudo no qual prevê uma alta de 1,4% para o conjunto das sete maiores economias da região, e quem fala sobre o assunto é o economista Antônio José Corrêa do Prado, ex-secretário-adjunto da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e conselheiro do Corecon-SP.
O grupo das sete maiores economias da região é composto por Brasil, México, Colômbia, Argentina, Peru, Chile e Costa Rica. O relatório da OCDE projeta uma alta de 3,6% na Costa Rica, 2,3% no Peru e Chile, 2,2% no México, 1,9% no Brasil, 1,2% na Colômbia e uma retração de 3,3% na Argentina. Em conjunto, o crescimento projetado para o bloco é de 1,4% – uma desaceleração em relação a 2023, quando o mesmo conjunto de países cresceu 1,9%.
Para o economista Antônio Prado, há fatores de longo prazo que atrapalham o crescimento dos países da América Latina. “Essas economias vêm passando por um processo de políticas monetárias restritivas”, explicou Prado. “Mas há fatores de longo prazo explicando o crescimento dessas economias. A Cepal fez um cálculo desde a década de 1950 com um número maior de países. No período de 1951 a 1979, a média de crescimento foi de 5,5%; de 1980 a 2009, 2,7%; e de 2010 a 2024, 1,6%. A taxa média de longo prazo é de 1,9%”.
Por que isso ocorre? “Tem vários fatores estruturais importantes, mas primeiro uma baixa taxa de crescimento dos investimentos de todas essas economias”, avaliou o economista. “Isso impacta o nível de produtividade da América Latina, que hoje é ainda menor do que o encontrado nos anos 80. Isso prejudica muito o crescimento de longo prazo”.
No relatório divulgado pela OCDE, o principal fator apontado como responsável por enfraquecer o crescimento da América latina neste momento é a falta de demanda externa. Entre os principais parceiros econômicos da região, a organização prevê um crescimento de 2,6% para os Estados Unidos, 4,9% para a China e 0,7% para a zona do euro. Prado aponta que a demanda externa também vem sendo afetada pelo baixo crescimento do comércio mundial
“O volume tem diminuído desde a pandemia. O crescimento do comércio mundial desde o final da Segunda Guerra foi um motor importante de crescimento de todas as economias”, comentou o conselheiro do Corecon-SP. “Esse motor está se apagando, e isso vem acontecendo desde a crise financeira de 2008 e, em especial, desde 2012, quando a segunda fase afetou a Europa. Esta análise da OCDE chama a atenção para um fator fundamental, que é o dinamismo do comércio internacional”.
Outro ponto para o qual o relatório chama a atenção são os riscos que a região enfrenta devido às tensões geopolíticas globais e à volatilidade dos mercados financeiros. A economia da região é afetada pela variação nos preços do dólar e das commodities. Além disso, parceiros comerciais importantes estão, de alguma forma, envolvidos em conflitos.
Mas outro fator para o qual o economista chama a tenção é o endividamento da região. Esta é uma questão importante porque, no momento, a taxa de juros praticada nos Estados Unidos é de 5,5% ao ano, o que eleva o custo de captação de recursos no exterior – e não há sinalização de que esta taxa venha a cair antes do fim de 2024.
“As questões geopolíticas têm efeitos importantes. Afetam preços fundamentais como o petróleo e os fertilizantes, e também as economias mais próximas, que são nossos parceiros comerciais. É o caso da Europa. A taxa de crescimento baixo tem relação com a guerra Rússia-Ucrânia”, observou Prado. “Mas temos também nossos problemas internos, e que têm relação com a economia norte-americana. Quando a taxa de juros americana sobe, ela impacta a nossa política monetária. É uma característica dos países da região, não tanto do Brasil, depender de financiamento com emissão de dívida soberana, que vem custando cada vez mais caro”.
A OCDE também apontou para o fato de que os desastres climáticos podem afetar a produção agrícola da região. Na mesma semana em que foi divulgado o relatório, o Rio Grande do Sul sofreu um desastre climático sem precedentes. As chuvas intensas levaram ao transbordamento de rios, deixando um rastro de inundações e destruição.
Que alerta esta situação traz para a economia da América Latina? “É um impacto importante, porque o Rio Grande do Sul tem um peso de cerca de 12% na produção de grãos do país. Não sabemos o que vai ocorrer em termos de resultado da safra, que vinha sendo bom. Tínhamos uma projeção de queda na safra de grãos de 8% no país, então é provável que haja um aumento nesta previsão de quebra de safra em relação ao ano passado, que foi um ano bom”, afirmou Prado. “É muito importante passar a considerar esses eventos climáticos extremos como eventos que acontecerão de forma mais frequente e intensa”.
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