Presidente defende investimento público para sair da crise

  • 10 de junho de 2019
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O presidente do Cofecon, Wellington Leonardo da Silva, concedeu uma entrevista ao jornal amazonense A Crítica, na qual falou sobre a conjuntura econômica do país e defendeu os investimentos públicos como saída para a crise vivida pelo Brasil. Ele esteve em Manaus para participar do Encontro de Entidades de Economistas da Amazônia Legal (ENAM) e a entrevista, no portal do jornal na internet, pode ser acessada clicando AQUI.

O País vive o risco real de recessão. É possível evitar esse cenário?

Se não mudar a atual lógica política, não tem jeito. Estamos repetindo esse cenário, uma vez que o Michel Temer também ia ‘salvar o País’, dizendo que o PIB ia crescer 3,5%. Bolsonaro replicou esse número e hoje vemos o resultado. O quadrimestre foi terrível. Isso se dá pela aplicação das receitas erradas no Brasil para tirá-lo da recessão. Os Estados Unidos, por exemplo, tornaram a taxa de juros negativa. No Brasil, faz-se o contrário: mantém uma das maiores taxas de juros do mundo. Não me surpreende o resultado trimestral do PIB. A lógica dos americanos é negativar os juros, assim o banqueiro que tá com dinheiro em títulos da dívida pública perde dinheiro, da mesma forma o empresário. Aí a opção será investir na produção, ampliar as fábricas, inaugurar negócios, criando empregos e renda consequentemente.  

Essa seria uma saída para o ‘marasmo econômico’?
Sim. Qualquer nação do mundo, com uma elite decente, coloca dinheiro dentro do sistema econômico, dinamiza e o faz funcionar frente a um risco de recessão. Tem que criar emprego para criar renda para se ter consumo. Sem isso, não tem empresário que seja irresponsável o suficiente para investir ampliando a produção, modernizando equipamentos sabendo que não vai conseguir vender. Com a reforma trabalhista você fragiliza o mundo do trabalho em relação ao mundo do capital. Quartorze milhões de desempregados e mais 29 milhões de subempregados. Quase 50 milhões que não vão consumir muito. Por isso a economia não deslancha, e nunca vai com este alto nível de desempregos e sem investimentos públicos. Mais que investimentos puro e simples, é preciso de programas para geração de empregos. Fala-se em quarta revolução industrial, mas não completamos nem a primeira. O Brasil exporta petróleo bruto, que é mais barato no exterior, e importa diesel e gasolina refinado, muito mais caro de comprar. Privatizar riquezas naturais foi um erro, do mesmo jeito que entregar a Embraer pra Boeing. Um país que se pretenda ser desenvolvido deve ter apetite por isso, não dizer que vai abrir a Amazônia. 

Numa expectativa realista, é possível retomar o crescimento nos próximos três anos?

Aí é decisão política. A saída é aumentar o nível de investimento público. “Ah, mas não tem dinheiro”. Corta dos banqueiros, então. Todo ano, eles têm lucros astronômicos. Taxa as fortunas, os rendimentos de capital que não têm taxas. Tem gente com aplicação de R$ 600 mil a R$ 2 milhões e são isentos. Faz uma tabela progressiva decente para o Imposto de Renda. Incentiva a indústria da construção civil com as milhares de obras paradas Brasil afora. Revê a bobagem de equiparação da taxa de financiamento do BNDES a do mercado financeiro, dos bancos privados. Qual empresário que vai pegar dinheiro emprestado e pagar juros ao banqueiro? Nenhum. É por isso que os países criam bancos de desenvolvimento. Se não mudar a lógica vigente, esquece, porque não se tem projeto de desenvolvimento e tudo o que se fala é em corte. 

Por isso a dificuldade em retomar o crescimento após a crise de 2008?

Sim. Além de tudo, a argolagem da dívida pública brasileira funciona com o Banco Central pagando só juros. Não se está diminuindo o estoque da dívida; só juros sobre o financiamento, e classifica-se isso como amortização. Não passa de falsidade contábil. Amortização é quando diminui o capital, e não quando só se paga juros.  

A reforma da Previdência será suficiente para colocar a economia no rumo do crescimento?

Não, e pensar assim é um equívoco. O Chile fez o primeiro regime de privatização e capitalização da Previdência na América Latina. Paulo Guedes era funcionário do ditador Augusto Pinochet à época e um dos que ajudaram a reforma ser aprovada. Diziam lá para apostarem na capitalização para aposentadoria, porque o salário iria ser quase igual ao do último emprego. No fim, os trabalhadores se aposentaram com 30% a 40% do salário mínimo chileno, os números de suicídio entre idosos aumentaram, não se tornaram um País desenvolvido e o mesmo acontecerá com o Brasil.  Guedes mesmo já disse isso quando disse que o BPC (Benefício de Prestação Continuada) deveria ser de R$ 400. Isso é 40% do salário mínimo. Ele entende o suficiente de economia para saber que é isso o que vai acontecer, para dar dinheiro aos banqueiros na venda de aposentadorias complementares. Esse é o jogo. Me pergunto do porquê de não começarem com os devedores da Previdência, somando uma dívida de mais de R$ 497 bilhões. E por que o deputado que penaliza o pobre se aposenta com R$ 37 mil e 85% da população fica de 1 a 5 salários mínimos? Tem alguma coisa errada aí.

A reforma trabalhista não foi suficiente para fomentar o emprego. O que fazer com ela?
Precisa rever ela. Só ajudou a precarizar. O ataque à Justiça Trabalhista tirou dos trabalhadores os canais para exigir o cumprimento de direitos. Hoje, o jovem trabalha em redes de fast food aos sábados e domingos, ganhando R$ 4,70 por hora, sem férias, 13º, fundo de garantia. Isso aquece que economia? O pobre consome a partir da venda da sua força de trabalho; se ele recebe salário porcaria, consome cada vez menos. Tem que reduzir as taxas de juros, fazer uma tributação justa de caráter progressivo, não entregar o BNDES ao setor privado, combater baixa produtividade com educação e não cortar 30% do Ensino Básico e Superior. A carteira verde e amarela, se aprovada, no fim das contas será imposta aos jovens empregados pelos patrões. E isso ajuda a economia a crescer?
  
Um modelo baseado em incentivos como a ZFM tem espaço ante aos esforços liberais do atual governo?

Não. Um governo que quer entregar território, a base de Alcântara para os americanos, vai estar preocupado com empresas da Suframa? Não vai. Também acho que o modelo tem problema. Quando você implementa um modelo de Zona Franca, a concepção é que vai se aproveitar dos incentivos fiscais, das desonerações de tributos para desenvolver produtos. Você começa importando, montando, mas vai investir para se tornar autônomo. Aqui, não acontece. Construímos um monte de empresas que montam um conjunto de componentes de fora e vendem ao mercado interno. Não é para isso que se criam Zonas Francas. Tem que rever o modelo, e esses caras não estão preocupados com isso. A reforma tributária pode mexer nesses incentivos, inclusive. Quem tira dinheiro da educação e saúde, não irá preferir subsídios para Suframa.

Como recuperar a confiança dos investidores na atual conjuntura?

Se eu tenho riquezas como o pré-sal, não vou leiloar poços de petróleo, mas dar um jeito de investir na criação de mais refinarias para ser autossustentável, sem privatizar elas. Exporto diesel, gasolina e gás. Lá fora a Rússia invadiu a Ucrânia para pegar os dutos que levam gás para a Europa. Aqui, entregamos de bandeja. Também teria que ter dado um jeito de ter uma política agressiva para exportar aviões com a Embraer, e não vendê-la. Não entregar bases militares para os Estados Unidos. Isso é entregar o futuro do País. Empresário inteligente não acredita em Papai Noel. Não vai preferir um lucro de produção  de 5% ou 6% quando pode ganhar 7,5% ou 8% em títulos da dívida pública.

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