Tecnologias inovadoras que empoderam mulheres empreendedoras

  • 20 de setembro de 2024
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Durante o 2º Seminário da Mulher Economista e Diversidade, Isabel Ribeiro, Arianna Britto, Elise Hungaro, Karine Moraes Ribeiro e Emmanuele Silveira trouxeram recortes de raça, conceitos de sustentabilidade, educação financeira e economia solidária

O empreendedorismo feminino foi o tema que permeou os debates da última mesa no 2º Seminário Mulher Economista e Diversidade, realizada na tarde de 13 de setembro na Universidade Federal de Minas Gerais. Isabel Ribeiro, Arianna Britto, Elise Hungaro, Karine Moraes Ribeiro e Emmanuele Silveira trouxeram recortes de raça, conceitos de sustentabilidade, educação financeira e economia solidária, bem como seus impactos sobre a vida das mulheres. A mesa de debates, que teve comentários de Kerssia Preda Kamenach e mediação de Josélia Brito, pode ser assistida clicando AQUI.

O seminário foi organizado pela Comissão Mulher Economista e Diversidade do Cofecon, coordenada pela conselheira Teresinha de Jesus Ferreira da Silva, em parceria com o Conselho Regional de Economia de Minas Gerais, presidido pela economista Valquíria Assis, e com outros Corecons.

Isabel Ribeiro

A economista Isabel Ribeiro, presidente do Corecon-BA, trouxe à tona os desafios enfrentados por mulheres negras em suas jornadas como cientistas, professoras e empreendedoras. “Enquanto a mulher branca representa 23,5% da população na educação superior, entre as mulheres negras esse número cai para apenas 10,4%,” destacou. Essa discrepância se reflete também nas taxas de empreendedorismo, onde 87,5% das mulheres negras empreendem por necessidade, e não por oportunidade.

Isabel trouxe números de pesquisa do Sebrae sobre mulheres empreendedoras: “87,5% empreendem por conta própria, e muitas vezes por necessidade, e não com planejamento, e apenas 12,5% são empregadoras, ou seja, contratam pelo menos mais uma pessoa; 48,9% são negras e trabalham, em média, 35 horas semanais”, relatou. “Como sabemos que empreender no comércio e serviços exige menos complexidade, 55,9% atuam no setor de serviços e 65,4% são informais; 41,3% possuem ensino médio completo e apenas 29,1% ensino superior; 52,1% são chefes de domicílio”.

Isabel também falou sobre o impacto que a ausência de modelos de sucesso tem na autoestima e nas aspirações das mulheres negras e contou sua própria experiência. “Nasci num bairro periférico, minha mãe era professora primária e meu pai, policial de baixa patente. Os ricos da rua eram meu tio, fiscal do INSS, e um vizinho petroleiro”, comentou. “Raramente nas famílias negras você tem um pai empresário ou um irmão empresário que sirva de modelo” observou.

Isabel de Cassia Ribeiro é economista formada pela Faculdade de Economia da UFBA, com mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais pela mesma instituição. Atualmente, atua como Gerente Adjunta na Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia e é presidente do Corecon-BA.

Arianna Britto

A economista Arianna Brito, doutora pela Universidade Federal Fluminense, trouxe um recorte de raça ao debate e enfatizou a relevância da representatividade e do acesso a dados sobre a população negra no campo da economia. Ela destacou a criação da Rede de Economistas Pretos e Pretas (REPP), surgida em 2021 em resposta à falta de representatividade no setor. “O objetivo da REPP é ser uma voz para profissionais negros e negras, atuando em diversos setores e promovendo a inclusão nas decisões econômicas”, afirmou. “Apenas 15% das nossas integrantes têm doutorado ou estão cursando, e muitos desafios persistem”, observou.

A criação da REPP se deu após um episódio ocorrido nos Estados Unidos e que catalisou discussões sobre desigualdade racial em várias partes do mundo: a morte de George Floyd. “A mobilização social que aconteceu nos Estados Unidos impactou nossa luta por representatividade e voz no Brasil”, explicou.

A economista também abordou o trabalho de avaliação de políticas públicas, especificamente o programa moeda social Arariboia, implementado em Niterói. “Esse programa visa atender a população vulnerável durante a pandemia, mas não é especificamente focalizado em mulheres negras. É um desafio que precisamos enfrentar”, destacou. “O acesso a crédito e a formação em tecnologia são cruciais para empoderar essas mulheres e ajudá-las a superar as barreiras que enfrentam”.

Ariana Britto possui doutorado e mestrado em Economia pela Universidade Federal Fluminense, além de bacharelado em Economia pela UNICAMP. Foi professora no IBMEC-RJ e, atualmente, é Gerente de Políticas Públicas no Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL) para a América Latina e Caribe.

Elise Hungaro

A economista Elise Hungaro destacou a crescente importância das mudanças climáticas no cenário econômico global. “Desde 1850 o ano mais quente já registrado foi 2023, e 2024 certamente passará à frente da lista. As emissões globais de dióxido de carbono se multiplicaram 182 vezes no período”, alertou Elise, ressaltando que os países que mais emitem não são os mesmos que estão enfrentando os efeitos devastadores das mudanças climáticas. “Além disso, o 1% mais rico do mundo é responsável por tantas emissões quanto os 66% mais pobres”.

Elise enfatizou a necessidade de uma abordagem econômica que não se concentre apenas no crescimento do PIB, mas que valorize o trabalho não remunerado e as tecnologias sustentáveis. Apresentou o conceito de decrescimento e trouxe o paradoxo de Jevons: “Quando uma tecnologia é absorvida muito rapidamente, uma tecnologia mais eficiente que consegue utilizar recursos naturais de forma menos exploratória, ela acaba sendo usada de forma tão ampla que passa a ter impactos iguais ou piores do que a tecnologia anterior”.

A economista também trouxe à tona a relevância do papel das mulheres no combate às mudanças climáticas. “Dois terços dos catadores de recicláveis no Brasil são mulheres”, apontou. Ela também apresentou exemplos inspiradores de empreendedoras que estão inovando no setor, como Cilene Monteiro, criadora da startup Desembala; Sayuri Magnabosco, que criou uma embalagem de cana-de-açúcar; Anne Lima, que criou uma loja de cosméticos veganos com modelos de reuso; Ana Paula Silva, que trabalha com inovação em compostagem; e Laís Lopes e Ana Rocha criaram um projeto chamado Escola Circular, com coleta de dados a fim de combater o desperdício de alimentos em escolas públicas brasileiras. “É fundamental que estejamos presentes nas discussões sobre sustentabilidade, pois esses temas moldam nosso futuro”, concluiu.

Elise Hungaro é mestranda em Inovação Tecnológica pela UFMG, com graduação em Economia e MBA em Gerenciamento de Projetos pelo IBMEC. Membro do Hub Belo Horizonte do Global Shapers Community, atua em projetos de empoderamento de comunidades vulneráveis frente às mudanças climáticas.

Karine Moraes Ribeiro

A economista Karine Moraes Ribeiro destacou a relação complexa entre as mulheres e o acesso ao crédito, um tema frequentemente considerado tabu. “Apenas 6% das mulheres empreendedoras contaram com auxílio de instituições financeiras para abrir seus negócios”, observou. Isso revela um panorama preocupante, onde a maioria das mulheres inicia seus empreendimentos com recursos próprios ou ajuda familiar, muitas vezes sem suporte profissional. “Mais de 70% das mulheres começaram a empreender com recursos próprios. Muitas vezes, elas usam economias guardadas ao longo dos anos, mas isso não é suficiente para garantir a sobrevivência do negócio”, acrescentou.

Outro ponto crucial abordado foi a falta de educação financeira, que afeta a população em geral, mas tem um impacto mais profundo nas mulheres. “Há um crescimento muito pequeno no número de mulheres que têm algum tipo de investimento”, comentou. Karine pontuou que, apesar de a educação financeira ser parte da Base Nacional Comum Curricular desde 2013, sua implementação é falha. “O conteúdo é misturado com matemática. Aquele aluno que já tem dificuldade com matemática não consegue absorver o conteúdo

Ela alertou ainda sobre o risco associado à inadimplência, que é maior entre mulheres, impactando diretamente suas taxas de juros. “Quando as mulheres não pagam suas dívidas, isso eleva o custo do crédito para elas”, afirmou. Além disso, como as mulheres empreendem mais na área de serviços, nem sempre é fácil escolher qual linha de crédito utilizar e o que oferecer como garantia. “A posição feminina até na decisão de abrir um negócio dificulta o acesso ao crédito. Não é simplesmente dizer que ela não consegue crédito, é o fato de estar numa posição que não a favorece”.

Karina Moraes Ribeiro é graduada em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestranda em economia aplicada pela Universidade Federal de Ouro Preto. Também tem pós-graduação em Business Intelligence pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. É sócia da SINX Investimentos e SINX Serviços Financeiros.

Emmanuele Silveira

A economista Emmanuelle Silveira destacou a importância da economia solidária como uma forma de resistência e inclusão de pessoas marginalizadas no mercado de trabalho. “Quando comecei a estudar, a Tania, no primeiro período, me mostrou a economia solidária “, afirmou Emmanuele, ressaltando a sua dedicação a essa alternativa. Atualmente, ela está envolvida em projetos que buscam captar e gerir recursos para populações em situação de rua, destacando a relevância de iniciativas que fomentem a solidariedade.

Um dos principais focos de sua pesquisa é a liderança feminina em empreendimentos de economia solidária. “Trabalhamos com a liderança, gênero e economia solidária, e trouxemos dados de entrevistas com várias mulheres”, explicou. “A economia solidária é um modo de produção completo, onde não há a figura do patrão e do empregado, mas sim uma horizontalidade nas relações de trabalho”.

Emmanuele mencionou a necessidade de políticas públicas que deem suporte à economia solidária. “As universidades também têm um papel crucial ao apoiar esses movimentos, oferecendo espaços de geração de renda e formação para as mulheres”, acrescentou. Por fim, a economista trouxe relatos de mulheres que encontraram na economia solidária uma rede de apoio em momentos difíceis. “Essas mulheres criaram uma rede que vai além do sustento da família”, concluiu.

Emmanuele Silveira é economista, mestranda em Administração pela PUC Minas, conselheira do Corecon-MG, desempenha a função de Conselheira Fiscal na Associação Pastoral Nacional do Povo da Rua. Atua no Grupo de Reflexão e Trabalho para a Economia de Francisco e Clara e na Pró-reitoria de Extensão, ambos na PUC Minas e Pesquisadora de uma economia mais justa, inclusiva.

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