XXX ENE: Segunda noite de debates focou no financiamento do desenvolvimento do Nordeste

A segunda noite de debates do XXX Encontro de Entidades de Economistas do Nordeste ocorreu nesta quarta-feira, 31 de outubro, na cidade de Imperatriz (MA). O tema em discussão foi “Financiamento do desenvolvimento no Nordeste” e teve como palestrantes o conselheiro federal e presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC), Felipe de Holanda; e o economista-chefe do Banco do Nordeste, Luiz Alberto Esteves. O presidente do Cofecon, Wellington Leonardo da Silva, prestigia o evento.

Primeiro a se apresentar, Luis Alberto Esteves iniciou sua fala abordando o que os bancos fazem desde que surgiram. “O sistema bancário como conhecemos vem da Idade Média. Naquela época, as economias cresciam 1% a cada 10 anos, isso quando era bom. Não havia grandes variações de produtividade, eram instituições pequenas que só emprestavam dinheiro para quem conheciam e não havia inflação ou risco de mercado”, contou. Segundo o economista, a Peste Negra faliu mais de 600 bancos apenas na Itália, na época, e aqueles que sobreviveram decidiram ocupar esse espaço. Para isso, começaram a emprestar dinheiro para pessoas que não conheciam e, assim, apareceu o risco. “Começaram a exigir garantias. O negócio do banco é o negócio do risco. Quanto mais informação eu tenho sobre quem eu empresto o dinheiro, melhor. Se o risco de não pagar é grande, as taxas são altas, se há um risco pequeno, as taxas são baixas”, afirmou.

Para Luis Alberto, a área de gerenciamento de riscos, em um banco, é onde há os maiores avanços de tecnologias modernas que se utilizam de dados, que é por exemplo o big data. “As empresas estão usando algoritmos para acessar informações que, analisadas, podem extrair todo o excedente do consumidor. O banco passa a avaliar exatamente o seu perfil e cobrar exatamente o que você pode pagar”, disse. Segundo Luiz Alberto, grandes empresas têm acesso a crédito porque há muitas informações sobre elas, disponíveis inclusive na internet. Os desafios são as microempresas, que tem pouca informação disponível na internet. “Não é possível fazer algoritmo de big data onde não existe data. A nossa preocupação é de que a falta de informação faça com que o crédito para microempresas fique mais caro e os requisitos de garantias fiquem mais altos. Nossa preocupação é de como podemos construir algoritmos inclusivos – que tipo de coleta de informações tenho que fazer para pegar o projeto certo, em meio a tantos que podem dar errado?”, refletiu.

Felipe de Holanda traçou o cenário internacional, nacional e regional nordestino, apontando a conjuntura político-econômica em cada um deles e seus principais desafios. “Nós estamos em um cenário internacional de dificuldades e estamos vendo uma possibilidade de ‘grecificação’ e não de ‘venezuelização’ do Brasil se não tiver, de fato, condições de fazer reformas fiscais, e elas precisam de um ambiente de crescimento”, relatou Felipe de Holanda. Para o conselheiro federal, o cenário internacional piorou e é menos favorável para o financiamento de desiquilíbrios macroeconômicos em um país como o Brasil.

Sobre o cenário nacional, Felipe de Holanda destacou que a economia está se recuperando, retomando emprego. “Se analisarmos o acumulado de 2018 comparado com o que acontece no acumulado de 2017, de fato há crescimento na área de bens de consumo duráveis, uma recuperação nas exportações. Mas, se olharmos o nível onde esses agregados macroeconômicos estão e onde estavam em 2014, a gente vê que esse período recessivo não tem semelhança com nada que aconteceu no pós-guerra, no Brasil. Em geral, nas crises recessivas você tinha um relançamento da economia dois ou três anos depois, o investimento voltava rapidamente, e o que a gente pode dizer aqui é que os agregados macroeconômicos não respondem. É uma crise diferente, podemos dizer que estamos com características de estagnação mesmo”, disse.

Segundo o conselheiro federal, a macroeconomia básica aponta um grande erro de diagnóstico que está colocado desde o início do governo Dilma. “O que a economia precisa é de um ambiente de crescimento, de investimentos”, recomendou. Para Felipe de Holanda, o governo de Jair Bolsonaro defende a necessidade de perseguir o equilíbrio orçamentário a todo custo e, em seguida, a realização de privatizações, estimadas em R$ 1 trilhão. “Não estamos vendo articulação com um programa de investimentos que vá impactar a construção civil, a retomada de obras físicas, por exemplo. Nós vamos continuar em uma situação em que haverá crescimento marginal, com um ou outro setor apresentando uma guinada, mas o problema do desemprego vai se gravar no país. Com esse agravamento, nós vamos ter problemas políticos para o presidente que acaba de se eleger. Muito provavelmente vai perder popularidade e capacidade de aglutinar setores”, refletiu o economista.

Ainda citando o presidente eleito, Felipe de Holanda mostrou preocupação com as mensagens que Jair Bolsonaro e seus apoiadores difundem, principalmente em relação ao Nordeste. “Ele diz que vai acabar com o coitadismo. Será que o Nordeste não precisa de uma atenção especial com a situação ocupacional que nós estamos vivendo hoje? Vemos erros de diagnóstico e de terapias, e isso não vai produzir crescimento econômico. Muito provavelmente vamos nos ver em uma crise política novamente daqui a 10 ou 15 meses”, argumentou o conselheiro federal.

XXX ENE

O XXX ENE continuará nessa quinta-feira, 1º de novembro, com palestra do economista e conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda e do economista e professor da faculdade de economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Oswaldo Ferreira Guerra. Eles falarão sobre “Os desafios da conjuntura e os caminhos para o Brasil sair da crise”. Após a palestra, haverá lançamento do livro Economia Brasileira – 6ª Ed. 2018 – Antônio Corrêa de Lacerda; e da Revista Mundo Econômico – vol.3, 2ª SEM/2018.

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